É nos primeiros mil dias de vida que uma criança desenvolve seus primeiros sentidos do que é o mundo. Mesmo que o cuidado seja importante em qualquer idade, na infância, a criança precisa ter um ambiente seguro e que a estimule, ter contato com brinquedos e com o brincar, além de ter acesso a uma alimentação saudável e ao tempo de qualidade com pais, mães e responsáveis.
O Dia Mundial da Infância, comemorado em 21 de março, foi instituído pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para promover uma reflexão sobre os direitos das crianças. Os números de crimes praticados contra crianças são alarmantes, principalmente no ambiente virtual. Mesmo com as denúncias em queda, quando comparado a 2023 – recorde na série histórica -, a ONG SaferNet recebeu 52.999 novas denúncias de crimes relacionados a imagens de abuso e exploração sexual infantil em 2024. A organização destaca que, apesar de menos denúncias, o teor delas é mais grave.
“A cada ano, ou as denúncias de violações infantis aumentam ou se tornam mais graves. Muitas vezes, os pais ou responsáveis demoram para identificar que um crime esteja ocorrendo, então a criança permanece sofrendo em silêncio por meses. Uma maneira de evitar isso e que é bastante estimulada pelo ChildFund Brasil, é a parentalidade lúdica e é por meio dela que a criança ganha confiança em seus responsáveis. Caso aconteçam episódios de violação, a criança saiba quem alertar e como se defender”, destaca Maurício Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização que atua na promoção e defesa dos direitos da criança, do adolescente e do jovem há 58 anos no país.
Parentalidade lúdica desenvolve a confiança entre pais e filhos
Uma das primeiras e principais linguagens da criança é o brincar, além de ser uma forma de desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor. Quando a figura materna ou paterna é envolvida na brincadeira, seja com um olhar, uma palavra ou interação, os vínculos familiares se estreitam e a confiança entre o jovem e o responsável tende a crescer.
Quando há essa interação, chamamos de parentalidade lúdica, que está muito associada com o diálogo na infância. Uma conquista recente foi a aprovação do Projeto de Lei 2861/2023, que instituiu a parentalidade positiva e o direito ao brincar como estratégias prioritárias para prevenção da violência contra crianças e na construção de relacionamentos positivos.
A lei foi proposta pela deputada federal Laura Carneiro (PSD-RJ) e o texto técnico foi construído inspirado nos resultados do Projeto Brinca e Aprende Comigo, que beneficiou 12,5 mil crianças de zero a oito anos e mais de 6.200 mães, pais e outros cuidadores em regiões precárias do Ceará e de Minas Gerais.
“Tudo que é aprendido na infância é levado para o restante da vida, tanto as coisas boas, quanto as ruins. Então, dar para as crianças o poder de crescerem em um ambiente psicologicamente e de forma segura, é uma maneira de garantir que elas saibam como identificar possíveis violações e avisar os responsáveis. A Lei do Brincar é um importante passo, mas ainda é o começo de uma sociedade protetora das crianças”, afirma Mauricio.
As interações e os momentos lúdicos entre pais, mães, cuidadores e as crianças geram impactos duradouros e positivos na vida. As crianças se sentem seguras e enxergam figuras carinhosas e protetoras, nas quais podem confiar e evitar diversos episódios até mesmo de violência.
Dicas para evitar os casos de violência
O monitoramento é uma das formas mais eficazes de evitar crimes no ambiente digital, mas outras estratégias também ajudam a minimizar os riscos. Os pais e/ou responsáveis devem garantir um ambiente virtual seguro por meio de filtros de conteúdo, configurações de privacidade em redes sociais e programas de monitoramento parental. Muitas plataformas têm adotado medidas mais rigorosas para proteger os usuários mais jovens. Além disso, é importante conversar com as crianças e os adolescentes sobre situações de risco, como abordagens de estranhos, pedidos de fotos ou dados pessoais. Também vale orientá-los a não compartilhar informações pessoais em chats de jogos on-line e a utilizar apelidos e e-mails específicos para evitar exposição.
Observar mudanças de comportamento nas crianças pode ajudar a identificar possíveis situações de abuso ou exploração on-line. Baixa autoestima, vergonha, medo e culpa podem ser sinais de que algo está errado, e, nesses casos, manter um diálogo aberto, sem julgamentos, faz toda a diferença. Definir horários para o uso da internet e incentivar atividades fora das telas também contribui para um equilíbrio saudável. Se houver dificuldades para lidar com a questão, buscar apoio de psicólogos, terapeutas ou educadores especializados pode ser uma boa alternativa.
Para denúncias de crimes envolvendo crianças e adolescentes, é possível acionar a Polícia Militar e o Disque 100.