O consumo de medicamentos para dormir está em aumento no Brasil, especialmente desde o início da pandemia de Covid-19. Dados da indústria farmacêutica de 2023 indicam um crescimento de 30% nas vendas desses medicamentos entre setembro de 2019 e 2023. Segundo uma pesquisa da epharma, as vendas de remédios para insônia aumentaram significativamente em 100,5% de 2022 para 2023 entre os usuários do Programa de Benefício de Medicamentos (PBM). Esse aumento está diretamente ligado ao crescimento de 173% no número de beneficiários que consomem esse tipo de medicamento, quase triplicando de 2022 para 2023.
A medicina integrativa pode ser uma boa opção para amenizar os sintomas da insônia. De acordo com Tassiana Rodrigues Alves, médica pela Universidade Federal de Uberlândia, a perspectiva tradicional usa medicações para indução do sono, já o tratamento integrativo tem outras maneiras. “A abordagem integrativa vai tratar o intestino para manejo da microbiota intestinal, usar suplementos para aumentar a produção de neurotransmissores e usar a reposição hormonal bioidêntica”.
Tassiana lembra também do papel da progesterona na indução do sono da mulher. “Por isso, na menopausa e peri menopausa, a insônia é um sintoma muito comum”. Segundo a especialista, o uso de suplementos que aumentam a produção de GABA, neurotransmissor que inibe determinados sinais e diminui a atividade no sistema nervoso central, e a reposição de melatonina podem melhorar a qualidade do sono e da progesterona e testosterona, que estão relacionados à indução do sono nas mulheres e nos homens, respectivamente.
Confira outras práticas da medicina integrativa quanto ao sono:
- Hábitos de higiene do sono;
- Exercícios respiratórios
- Exercícios de meditação para a indução do sono de forma mais eficaz.
Uma das funções vitais do nosso corpo é a produção de energia, e o sono desempenha um papel fundamental nesse processo. Quando o sono não é restaurador e de qualidade, o corpo busca alternativas para obter energia, muitas vezes recorrendo a alimentos calóricos. Conforme a médica, indivíduos que desfrutam de um sono de qualidade têm menos propensão a compulsões alimentares.
“Além disso, durante o sono ocorrem importantes processos de reparo neuronal, cuja deficiência pode resultar em inflamação crônica no sistema nervoso central. Isso pode afetar a produção e a ação de neurotransmissores, levando a distúrbios como depressão, ansiedade e irritabilidade. O sono é considerado um dos pilares da Medicina do Estilo de Vida devido aos seus inúmeros benefícios para a saúde, ajudando a prevenir uma variedade de doenças”, completa.
Outras alternativas
Além de tratar o intestino e usar suplementos nutricionais e hormônios, a acupuntura pode ser uma boa opção para tratar da insônia. “Sou entusiasta da Acupuntura, uma prática que utiliza agulhas para estimular pontos específicos do corpo, desencadeando respostas serotoninérgicas (relacionadas à serotonina), dopaminérgicas (relacionadas à dopamina) e gabaérgicas (relacionadas ao ácido gama-aminobutírico). Esses neurotransmissores desempenham papéis essenciais no sistema nervoso central, podendo ter efeitos excitatórios ou inibitórios”, afirma.
A profissional cita ainda a cannabis medicinal, usada para estimular o sistema endocanabinoide e pode ter funções também inibitórias no sistema nervoso central, promovendo relaxamento. “Cuidar da mente e emoções através da psicoterapia ou de outras terapias também é de grande valia. Lembre-se que sono é entrega. Dorme melhor quem consegue sair do estado controlador”, finaliza.
A medicina integrativa valoriza a singularidade de cada indivíduo ao criar abordagens personalizadas para distúrbios do sono. Tassiana destaca a importância de considerar todos os aspectos, desde o intestino e suplementos até a mente e as emoções, de maneira individualizada. “Cada paciente pode requerer ajustes específicos, seja na alimentação, na suplementação de neurotransmissores ou na regulação hormonal. A ênfase na desconstrução do controle e na entrega ao sono ressalta a importância de abordagens holísticas, como meditação, exercícios respiratórios e adaptações no ambiente doméstico, para promover um sono restaurador e saudável”.