BRASÍLIA. No depoimento à CPI das ONGs, Marina Silva confirmou que acumula o cargo Ministra do Meio Ambiente com o de conselheira honorária da ONG IPAM, que recebeu recursos do Fundo Amazônia, criado pelo governo Lula na sua primeira passagem pela pasta, mas negou que o cargo de conselheira tenha influenciado na liberação dos recursos destinados em sua quase totalidade para pagar salários .
Durante todo o depoimento Marina colocou a defesa do clima acima de tudo, agiu em tom reativo e mostrou insensibilidade com o drama humano vivido por moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, visitada pela CPI, e por moradores da Vila Renascer, na terra indígena Apytrewa, expulsos sem um plano de realocação pela Força Nacional sob o comando da Funai e Ibama.
Marina disse á comissão que quando era criança, trabalhava no seringal com o pai e mãe, carregando o saco de castanhas na cabeça, em regime de semiescravidão. O presidente da CPI, Plínio Valério então a convidou a visitar a reserva extrativista Chico Mendes, no Acre, para ver que o regime de escravidão continua
“Infelizmente, naquela ápoca, no regime de semiescravidão, as crianças não conseguiam ser crianças. A gente trabalhava para poder sobreviver naquele regime de semiescravidão. Então, eu fiquei com três hérnias de disco muito precocemente”, contou Marina
O senador e presidente da CPI alertou para a realidade de hoje no local.
“E aquele cesto que a senhora carregava nas costas, com a mandioca para fazer farinha, eles estão carregando, os índios que a gente visita carregam ainda”, disse Plínio dizendo que as condições de vida na reserva Chico Mendes continuam muito ruins, só que o patrão hoje é o ICMbio, que administra a Resex.
“A senhora falou que viveu num regime de semiescravidão no seringal. Perfeito, conseguiu sair disso e ser uma pessoa de sucesso que é hoje, mas esse pessoal está no regime de semiescravidão em 2023. O doente sai, ministra, em rede. Rede, como saía lá no seringal, quando a senhora era criança”, disse Plínio.
Mostrando irritação com os questionamentos de senadores da CPI que a acusaram de ter sua credibilidade internacional usada contra os interesses do Brasil, Marina avisou que as ações de comando e controle no País vão continuar enquanto houver ilegalidade. Sempre voltando em questões já tratadas com discursos repetidos, provocou a intervenção do presidente da Comissão, senador Plínio Valério para deixar claro que ela não estava discursando na COP do Clima em Dubai, para onde viaja essa semana.
“Ministra desculpa. Isso aqui não é a COP. Isso aqui é a CPI das ONGs”, interveio Plinio.
Acompanhando o depoimento, o líder do governo, senador Jaques Wagner (PT-BA) defendeu um meio termo entre o radicalismo ambiental e o desenvolvimento da infraestrutura no País.
“Há coisas que são intocáveis, essas são intocáveis, e há coisas que, ao invés de dizer, “não pode”, como acho que a própria Ministra falou aqui, é melhor dizer “como pode”. Eu fui Governador de Estado e não obstruí investimentos que chegaram lá. Eu fui o primeiro a fazer auto licenciamento”, defendeu Jaques Wagner.