O primeiro navio porta-contêiner movido a metanol verde no mundo está navegando em direção ao porto de Copenhagen, na Dinamarca, onde chegará em 14 de setembro para sua cerimônia oficial de nomeação.
Encomendado pela transportadora dinamarquesa Maersk, a embarcação com motor bicombustível foi construída pelo estaleiro Hyundai Mipo, em Ulsan, na Coreia do Sul.
O motor bicombustível permite navegar com o metanol derivado de hidrogênio verde e com o combustível convencional de petróleo.
Entre os setores mais difíceis de descarbonizar, o transporte marítimo contribui com 3% das emissões totais de gases de efeito estufa (GEE), sendo responsável por 90% do volume do comércio mundial.
Para cortar emissões, precisa trocar de combustível – e é aí que mora o desafio. Altamente dependente do petróleo, o frete marítimo ainda não pode recorrer à eletrificação, como está ocorrendo nos veículos leves, por exemplo, e precisa de novas alternativas de abastecimento.
Entram em cena os derivados de hidrogênio, como amônia e metanol verde, com a promessa de colocar os navios na rota de descarbonização.
São produtos novos, no entanto, além de caros, que precisam de sinais de demanda e incentivos para ganhar escala.
Do lado da demanda, grandes multinacionais com ambições de emissões líquidas zero começam a embarcar no movimento para alavancar o frete marítimo de baixo carbono.
Quando o assunto é incentivo, o exemplo vem da União Europeia, que aprovou em março um regulamento para cortar emissões no transporte marítimo, incentivando o uso de combustíveis sustentáveis.
A partir de 2025, a intensidade de carbono nos combustíveis marítimos usados pelos transportadores europeus deverá cair 2%, com reduções gradativas ao longo dos anos seguintes até chegar a um corte de 80% em 2050.
Movido a metanol
A entrega do navio da Maersk ocorre dois anos após a encomenda. Pioneira nessa demanda, a dinamarquesa fez o primeiro pedido em 2021 e se comprometeu a só adquirir novas embarcações que possam navegar com combustíveis descarbonizados.
Com meta de atingir zero emissões líquidas em 2040 em todos os seus negócios, a companhia pretende transportar um mínimo de 25% da carga marítima utilizando combustíveis verdes até 2030, em comparação com uma base de referência de 2020.
O porta-contêineres de 2.100 TEUs (contêineres de 20 pés) que partiu de Ulsan é o primeiro de uma frota de 25 que foram encomendados pela transportadora para operar com metanol e que devem estar navegando até 2027.
Juntos, eles devem reduzir as emissões anuais de GEE do frete marítimo em cerca de 450 mil toneladas de CO2e por ano.
Vale dizer: a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi escolhida como madrinha do porta-contêiner e dará formalmente o nome ao navio na cerimônia em Copenhagen. Ele então partirá para sua futura rota operacional no Mar Báltico.
Net zero 2050
No início de julho, os Estados Membros da Organização Marítima Internacional (IMO) chegaram a um acordo para adotar a ambição comum de chegar a emissões líquidas zero até 2050. A ambição anterior era um corte apenas pela metade.
A revisão da estratégia para o setor inclui ainda um compromisso para garantir a absorção de combustíveis alternativos com zero e quase zero GEE até 2030. Algo que vai demandar muito investimento.
A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) calcula que, até meados do século, a descarbonização do transporte marítimo demandará 50 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano para o fornecimento de amônia e metanol como combustível.
Já o Boston Consulting Group (BCG) estima que o setor precisa de US$ 2,4 trilhões em investimentos para zerar suas emissões, dos quais aproximadamente US$ 1,5 trilhão seriam destinados aos setores de energia e químico para desenvolver combustíveis alternativos baseados em hidrogênio e para construir ou aprimorar instalações de refino, armazenamento e distribuição de combustível.
Fonte: Agência epbr