Quando pensamos em Terceiro Setor no Brasil, estamos falando de mais de 815 mil organizações com diversas áreas de atuação. E as empresas dos mais diferentes segmentos da economia precisam aprender a se relacionar melhor com elas, seja por meio do apoio a projetos socioambientais no contexto ESG, seja através de iniciativas próprias. Para além da responsabilidade que o setor privado tem com seu entorno e o impacto que sua atuação promove, alguns números chamam a atenção: o Terceiro Setor contribui com 4,27% do PIB brasileiro e gera mais de 6 milhões de postos de trabalho.
“A pandemia trouxe maior destaque para a relevância dessas organizações com as ações emergenciais em todo o país. Mas a ascensão da área vem desde o período de redemocratização, momento de garantia de direitos individuais e sociais fundamentais, e consequentemente de aumento das organizações da sociedade civil”, pondera a advogada Marcella Souza, coordenadora do Departamento de Assuntos Culturais e Terceiro Setor da Andersen Ballão Advocacia (ABA).
“Somado a isso, tivemos a vontade popular de agir em problemas relevantes para a comunidade; a oportunidade gerada por políticas governamentais de que as organizações atuem onde o governo não consegue chegar; e a possibilidade de prestação de serviços de responsabilidade social para empresas com fins lucrativos.”
Entenda o Movimento por uma Cultura de Doação
A pandemia também intensificou o Movimento por uma Cultura de Doação, criado em 2013 por pessoas físicas e jurídicas para promover doações de forma estrutural, de maneira que as organizações públicas e privadas mantenham esse hábito de forma permanente.
Esse mesmo movimento permitiu o levantamento de dados, como os citados no início da matéria, por meio de estudo coordenado pela Sitawi Finanças do Bem. A pesquisa inédita ajuda a entender os meandros para a captação de recursos, tão necessária à sobrevivência desses projetos. Ela revelou que o Terceiro Setor arrecadou R$ 423 bilhões em 2022, e que os empregos gerados por sua atuação correspondem a 5,88% de toda a força empregada no país.
Além disso, o Terceiro Setor também gera R$ 86,4 bilhões anuais em remuneração, tanto com salários pagos quanto com contribuições sociais.
“O Terceiro Setor movimenta a economia, e, num sistema capitalista como o nosso, é essa a linguagem que importa: quanto contribui para o PIB e quantos empregos gera. Isso acaba também desconstruindo aquela imagem apenas do voluntariado e da caridade, do jantar beneficente, da entrega de doações em creches, asilos etc. Coisas que de fato acontecem e são importantes, mas não se trata apenas disso: o Terceiro Setor representa um profissionalismo a serviço do benefício público e do desenvolvimento do país”, salienta Marcella.
“Essas informações são essenciais para dar base a mais políticas públicas para a área, mais credibilidade e visibilidade sobre os impactos alcançados. Mensurar o valor econômico do Terceiro Setor, nacional e regionalmente, como traz essa pesquisa, abre caminhos para seu fortalecimento, seja sob o aspecto interno organizacional do setor, ou em sua relação com outros setores da economia, grandes empresas e políticas públicas governamentais”, explica a advogada.