Pipeline New Fortress prepara início da operação de novos terminais de GNL de Santa Catarina e Pará. Empresa sai em busca de novos clientes.
Eneva estreia serviço de estoque de GNL em Sergipe. Gas Bridge conclui compra de 10% de Manati, de olho em armazenamento de gás. Compass cria nova empresa de gás. Biometano no Combustível do Futuro e mais. Confira:
UM RECOMEÇO
A New Fortress Energy (NFE) está nos preparativos finais para colocar em operação, até o início de 2024, seus dois novos terminais de regaseificação no Brasil: Barcarena (PA) e o Terminal Gás Sul (SC).
Os dois projetos, herdados da Hygo Energy (ex-Golar Power), comprada pela empresa em 2021, marcam um recomeço das operações da NFE no país.
A empresa nunca chegou a sair, de fato, do mercado brasileiro. Manteve, por meio da joint venture Energos Infrastructure, navios regaseificadores no país. Mas se desfez em 2022 de seu único terminal de GNL no Brasil, ao vender a Celse, dona da termelétrica Porto de Sergipe, para a Eneva.
Barcarena e TGS eram projetos esperados, justamente, para 2022, mas atrasaram. No meio do caminho, a guerra entre Rússia e Ucrânia abalou as estruturas do mercado global de GNL e esfriou as negociações com potenciais novos clientes no Brasil.
A volta dos que não foram. Agora, a NFE prepara o reinício de suas operações na importação de GNL no país e intensifica seus esforços comerciais em busca de novos consumidores, em especial para o terminal catarinense – que ainda não tem uma grande âncora de consumo.
A seguir, a gas week conversa com o diretor-geral da NFE Brasil, Leandro Cunha, e apresenta os planos da New Fortress para os dois novos terminais.
DOIS PROJETOS DE PERFIS DIFERENTES
Barcarena é um projeto mais maduro. O terminal, isolado da malha interligada de gasodutos do país, está ancorado em dois grandes clientes regionais: a refinaria de alumina da Hydro Alunorte; e a termelétrica Novo Tempo (624 MW), que a própria NFE está construindo no local e que deve ficar pronta em 2025.
Juntos, somam cerca de 5 milhões de m3/dia de demanda – o equivalente a um terço da capacidade da planta de regaseificação, que já se paga com os dois clientes firmes.
O TGS, por sua vez, possui um contrato pequeno com a SCGás, da ordem de 150 mil m3/dia – 1% da capacidade do terminal.
A NFE assumiu o risco, confiando no grande trunfo do projeto: a conexão com o Gasbol, da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG).
Este mês, a NFE obteve dois marcos para o desenvolvimento dos dois terminais: a empresa chegou a um acordo com a Petrobras para subafretar o FSRU (navio regaseificador) Energos Winter e deslocar a unidade para Santa Catarina – e, assim, viabilizar o início das operações do TGS, na Baía da Babitonga, em janeiro de 2024; e também garantiu um financiamento de R$ 1,8 bilhão do BNDES, para a instalação da UTE Novo Tempo Barcarena, no Pará.
No caso do terminal paraense, o FSRU está em fase final de conversão, num estaleiro asiático. A expectativa é que ele comece a operar e a fornecer as primeiras moléculas de gás à Alunorte ainda este ano.
Um marco. O projeto, aliás, marca o início das operações também do serviço de distribuição de gás canalizado no estado. A Gás do Pará, concessionária controlada pelo Estado, em sociedade com a Termogás de Carlos Suarez, pretende começar suas atividades pelo segmento industrial e, na etapa seguinte, explorar o mercado de GNV.
A chegada do gás permitirá à Hydro descarbonizar as suas operações. Ao todo, a empresa investiu R$ 1,3 bilhão para substituir o óleo combustível na sua matriz, dentro dos planos da companhia de se tornar neutra em emissões de carbono até 2050.
SMALL-SCALE NO PARÁ
Cunha conta que a NFE espera fechar nos próximos dois meses novos contratos.
No Pará, a companhia mira indústrias, menores que a Alunorte, localizadas próximas ao porto de Barcarena e no interior do estado e interessadas em substituir combustíveis mais poluentes como diesel e óleo combustível.
Além disso, a NFE está de olho em oportunidades de fornecimento para projetos termelétricos no Amapá, via fluvial (a contratação compulsória de térmicas, prevista na lei de privatização da Eletrobras, pode ser uma oportunidade). A própria companhia também tem a possibilidade de expandir o projeto termelétrico de Barcarena.
A New Fortress, aliás, está estruturando um negócio de distribuição de GNL em pequena escala, para atuar na região, via caminhão ou via fluvial. O plano é começar a operar o serviço em 2025.
Cunha disse que a empresa vem tocando o projeto por conta própria, mas não descarta parcerias com operadores logísticos no futuro.
“As duas possibilidades estão em aberto. Estamos fazendo a precificação dos contratos assumindo uma operação própria, mas dada as particularidades da região entendemos que pode ser interessante trazer um operador, um parceiro para nos ajudar nessa empreitada no Norte”, comentou.
Em Santa Catarina, ele assegura que o TGS entrará em operação no início de 2024, independentemente da quantidade de novos clientes, mas que a empresa está intensificando os esforços na captação de consumidores.
A New Fortress, segundo o executivo, aposta em diferentes tipos de segmentos: desde termelétricas (existentes ou novos projetos) a indústrias no mercado livre e transportadores interessados em contratar o serviço de balanceamento da rede.
Ele afirma que a empresa cogita tanto entrar em projetos termelétricos como fornecedora do gás quanto, em alguns casos, como acionista de alguma empreitada.
UM CAMINHO TURBULENTO
A investida da empresa nos novos terminais conviveu com estouros no orçamento e no cronograma. O atraso do terminal catarinense gerou insatisfações na indústria local e um mal-estar com a SCGás – que via no TGS uma alternativa para reduzir a exposição à Petrobras. Vale lembrar que o ano de 2022 começa com um forte reajuste da estatal.
No mercado, ficou a impressão de que, com a crise do gás na Europa, a NFE redirecionou suas atenções (e molécula) para o continente – que busca reduzir a sua dependência do gás russo.
A NFE nega. Cunha destaca que o Brasil é mercado prioritário para o grupo e atribui a demora na conclusão das obras do TGS, inicialmente previsto para 2022, a atrasos no furo direcional para instalação do gasoduto que conecta a planta de regaseificação à costa.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, claro, também atrapalhou: com os preços internacionais nas alturas, as negociações com potenciais clientes esfriaram.
“O atraso [do TGS] foi uma conjunção de fatores: o atraso na obra de engenharia e essa dinâmica do mercado global [pós-guerra da Ucrânia] que atrapalhou e muito as discussões que estávamos tendo com novos clientes… Não faltou molécula, faltou preço atrativo suficiente para esses consumidores”, complementou.
Ele conta que NFE possui um portfólio de GNL contratado – junto a traders como Shell, Charniere e Gunvor – que garante volume suficiente e gás para as operações da empresa; e que a companhia se prepara para colocar em operação no México, ainda este ano, o seu primeiro projeto próprio de liquefação flutuante (FLNG).
“Isso nos dá mais flexibilidade e apetite para capturar mais demanda, seja no Brasil ou outras geografias onde atuamos… Não falta atenção da holding, capital nem apetite para investir no Brasil”, comentou.
Fica o registro: o contrato entre NFE e SCGás previa o início do fornecimento para março de 2022 e inclui cláusulas de ressarcimento por atrasos. Questionada, a distribuidora preferiu não comentar, por questões de confidencialidade, mas confirmou que o contrato assinado entre as partes está em discussão.
A NFE também preferiu não entrar em detalhes, mas afirmou que a relação com a SCGás está equacionada.
NFE CRÊ EM NOVO MOMENTO
Cunha acredita que, depois de bater recordes em 2022, os preços internacionais do GNL vão começar a ceder nos próximos anos, trazendo mais competitividade para as atividades do grupo no Brasil.
“Tem muita oferta de GNL por entrar, seja no Oriente Médio, seja nos Estados Unidos. Acreditamos que há uma pressão para baixo. Além disso, teremos nosso GNL próprio, produzido no México, a preços competitivos”, disse.
O executivo destaca que, mesmo hoje, com os preços globais ainda tensionados, o GNL já justifica a substituição de combustíveis concorrentes no mercado brasileiro – sobretudo entre os clientes do GNL small-scale.
Em Santa Catarina, Cunha cita que o gás importado pela companhia entrará no mercado do Sul com uma vantagem competitiva em relação aos custos de transporte, comparativamente ao gás boliviano e o gás que vem da malha da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) – que percorrem distâncias maiores.
GÁS NA SEMANA
Eneva estreia serviço de estocagem de GNL. Empresa iniciou as operações de um novo serviço de estocagem para terceiros, no terminal de regaseificação de Sergipe. A empresa já realizou a primeira operação do tipo, no navio regaseificador do Hub Sergipe, para a Qatar Energy.
Estocagem também na Bahia. A Gas Bridge Storage, do grupo Lorinvest, concluiu a aquisição da fatia de 10% da PRIO no campo de Manati. É a entrada da GBS na concessão, de olho em oportunidades futuras de conversão do campo, no fim de sua vida útil, num negócio de armazenamento de gás.
Compass cria nova empresa de gás. A Edge irá consolidar as atividades de Marketing & Serviços da empresa – área de negócios que reúne a comercialização de gás natural e biometano, a operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo e a distribuição de GNL em pequena escala. Expectativa é replicar a experiência de outras empresas da Cosan, como a Raízen Combustíveis e Moove, no B2B
Mais chuva, menos térmica.O Ministério de Minas e Energia apresentou uma proposta para reduzir a inflexibilidade das termelétricas contratadas no ambiente regulado. Objetivo é diminuir os custos e otimizar o uso dessas usinas em cenários de excedentes na oferta de energia.
Unigel diz que retomará fafen na BA “assim que possível”. Empresa suspendeu o aviso prévio aos trabalhadores da fábrica de fertilizantes de Camaçari. Informou que continua em negociação com a Petrobras e que segue confiante de que chegará a “uma boa solução para as partes”, para viabilizar a operação do ativo.
Senador questiona Petrobras no TCU. Laércio Oliveira (PP/SE) pretende acionar órgãos de controle contra o afretamento, por 10 anos, do navio regaseificador Sequoia para o terminal de GNL da Petrobras na Bahia; e também questiona o possível adiamento da produção dos campos de gás em águas profundas de Sergipe.
Biometano no Combustível do Futuro. O deputado Arnaldo Jardim, relator do PL do Combustível do Futuro, disse que está trabalhando para incluir a regulamentação do biogás e do biometano em seu parecer.
México e Canadá vão se tornar exportadores de GNL. Governo dos EUA estima que capacidade de exportação de GNL da América do Norte deve mais que dobrar em quatro anos. Hoje, o continente, representado pelos EUA, é o principal fornecedor da commodity para o Brasil.
Por André Ramalho/Agência epbr