As emissões de gases de efeito estufa do setor de energia caíram 5% no Brasil em 2022, em comparação com 2021, mas o segmento de transportes foi na contramão: maior consumo de gasolina e diesel levaram a um aumento de 6% no volume de CO2.
Os dados foram divulgados nesta quinta (23/11) na 11ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima.
Em 2022, a queima de combustíveis fósseis na indústria, transporte e geração de eletricidade lançou à atmosfera cerca de 412 milhões de toneladas de dióxido de carbono – 22 MtCO2 a menos que em 2021.
Essa queda foi puxada pelo setor elétrico, que no ano passado conseguiu aumentar a participação das renováveis na geração, especialmente hidrelétrica, com os reservatórios cheios.
O menor acionamento de termelétricas fósseis veio acompanhado de uma queda de 36 milhões de toneladas de CO2 na geração elétrica.
Os analistas alertam, no entanto, que essa redução pode ser um ponto fora da curva, e o setor de transportes precisa receber mais atenção, já que responde pela maior parte das emissões.
Mais gasolina, mais CO2
Veículos leves, ônibus e caminhões emitiram, no ano passado, 12 milhões de toneladas de CO2 a mais do que em 2021.
“Transporte é sempre um ponto de atenção para energia, porque é o principal emissor e porque está ali atingindo recordes históricos. Não chegou a ser um recorde no ano passado, mas ficou bem próximo”, observa Ingrid Graces, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema),
De acordo com o levantamento, o transporte de passageiros aumentou em 8% suas emissões no ano passado, com os veículos leves sendo responsáveis por 67% das 102 MtCO2e da categoria.
“Esses dados são importantes para pensar políticas de incentivo ao transporte coletivo”, comenta Graces.
Já no transporte de cargas as emissões foram 5% maiores. “Houve aumento no consumo de diesel pelo segundo ano consecutivo. As emissões só não foram maiores devido à parcela de 10% de biodiesel presente no óleo diesel”, explica o relatório.
Juntamente com processos industriais e uso de produtos, que também apresentou queda (de 6%), o setor de energia respondeu por 21% das emissões nacionais brutas.
Ambição climática possível
Na economia em geral, a queda nas emissões foi de 8% em 2022, em relação a 2021, mas o volume de CO2 lançado à atmosfera ainda se manteve elevado: 2,32 bilhões de toneladas – terceira maior marca observada desde 2005 (atrás somente dos anos de 2019 e 2021).
Para os analistas que participaram do levantamento de dados, o aumento das emissões ao longo dos últimos quatro anos impõe desafios para que o Brasil cumpra a meta de redução estabelecida no Acordo de Paris, mas ainda é possível.
No curto prazo, a solução à mão é atacar o desmatamento. Pelos cálculos do SEEG, se o país cumprir o prometido pelo presidente Lula (PT) durante sua campanha eleitoral, e zerar o desmatamento até 2030, é possível chegar ao final da década com emissões líquidas de 0,7 GtCO2e – bem abaixo da meta de 1,2 GtCO2e apresentada na NDC brasileira.
Por Nayara Machado/epbr