Especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) abordam os aspectos que envolvem a insuficiência ovariana prematura ou precoce, conhecida popularmente como menopausa precoce, um problema que tem impactado diretamente a qualidade de vida de cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil, 7,9% da população feminina, conforme apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a ginecologista Michelle Coelho Fontenele Sena, do Ambulatório de Climatério da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), unidade da Rede Ebserh no Ceará, o termo “menopausa” está em desuso. “Quando observamos que a paciente abaixo dos 40 anos perdeu a função ovariana, dizemos que ela está com insuficiência ovariana prematura ou precoce. Nesse caso, ela apresenta uma elevação de FSH acima de 30 (hormônio folículo estimulante) e queda no nível de estradiol, que é o principal hormônio feminino”, esclarece.
Sena explica que a causa pode ser desconhecida (uma idiopatia) ou pode estar relacionada a outros fatores, tais como: doenças autoimunes; causas cirúrgicas, nas quais a paciente retira os ovários); ou ser consequência de quimioterapia, que acaba atuando em vários tecidos do corpo, bem como nos ovários. O problema também pode estar relacionado ao tabagismo, pois pacientes que fumam costumam adiantar a insuficiência ovariana em dois anos. “Assim que detectado o problema na paciente, é importante o encaminhamento ao médico geneticista, para pesquisa genética”, acrescenta a especialista.
Identificando os sinais
Os sintomas variam de pessoa para pessoa, dependendo das causas que levaram à insuficiência ovariana. Irregularidade menstrual ou ausência, ondas de calor (fogachos) são as queixas mais comuns, assim como irritabilidade, alterações no sono, pele seca, dores no corpo e ressecamento da vagina.
Michelle Sena diz que boa parte das pacientes só busca diagnóstico quando deixam de menstruar ou quando estão tentando engravidar e não conseguem. Com a investigação, deparam-se com o estradiol abaixo de 20 e estradiol acima de 30. “As manifestações dos sintomas são diferentes em cada paciente”, reforça.
De acordo com a ginecologista Lorena Porto, da Unidade de Saúde da Mulher do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh), verificados esses sintomas, são indicados exames de sangue e hormonais, além de outros laboratoriais, para o diagnóstico preciso, a fim de afastar outras causas que deixam a mulher sem menstruar. “Algumas doenças que podem levar ao atraso ou ausência da menstruação podem ser confundidas com a insuficiência ovariana prematura, como distúrbios na tireoide, ou como consequência do anticoncepcional injetável, que leva à ausência de menstruação por um ou dois anos”, relata.
Preservando a qualidade de vida
Há, ainda, as mulheres que estão na transição entre a fase reprodutiva e a não-reprodutiva, conhecida como climatério, como conta a jornalista da Ebserh, Alexsandra Jácome: “Ainda não estou na menopausa, mas sim no climatério e já sinto alguns sintomas. Tenho percebido mudanças no meu corpo e no meu humor nos últimos tempos. Os calores, a insônia e a variação de emoções me pegaram de surpresa, mas entender que é uma fase natural tem me ajudado. Estou aprendendo a cuidar melhor de mim com suplementação e reposição hormonal, além de respeitar esse novo momento com mais leveza e informação”, descreve.
Jácome disse que essa nova fase não afetou sua autoestima e acredita que a busca de informações assim como o apoio terapêutico e a atividade física contribuem para uma melhor qualidade de vida. Ela acrescenta que precisou buscar especialista para receber uma melhor orientação sobre o problema pelo qual estava passando e considera que ainda é um tabu tratar do tema. “As mulheres precisam receber uma melhor orientação sobre esse assunto para redução dos sintomas”, diz acreditar.
As mulheres que passam pela menopausa precoce podem sofrer mais do que aquelas apresentaram a condição no período regular. Questões hormonais, perda de massa óssea e osteoporose são algumas complicações que podem comprometer a qualidade de vida desse público.
Os estudos mostram também que o estradiol tem uma grande importância na proteção cerebral. Em níveis reduzidos, pode levar a problemas de memória e concentração. Com a redução da quantidade de estrogênio, a pele fica mais ressecada e há queda de cabelo, por isso a importância de iniciar o tratamento o quanto antes.
“A terapia hormonal é obrigatória e imediata, avaliando se há alguma contraindicação, verificando se há histórico pessoal de câncer de mama. Com relação à fertilidade, com a perda do funcionamento dos ovários, é necessário avaliar com o profissional de reprodução humana se há reserva de folículo ovariano e se ainda há a possibilidade de produzir óvulos”, ressalta Michelle Sena.
A ginecologista Lorena Porto alerta que o estilo de vida precisa ser modificado, mesmo com a reposição hormonal. “Importante inserir na rotina a prática de atividades físicas, especialmente as de resistência, para melhorar a massa óssea e os níveis de colesterol, além do cuidado com a alimentação”, destaca.
Ela completa que, em todo o processo, as mulheres precisam receber orientações médicas moderadas e livre de tabus. “O envelhecimento é um processo natural, e a menopausa é uma fase em que continuamos produtivas e não reprodutivas, especialmente acima dos 45 anos. A menopausa antes do 40 é uma situação delicada, porque não é esperada e torna-se uma situação prematura! Por isso, é necessário tirar esse conceito de que a mulher não é mais produtiva. É importante ter este ‘olhar’ para a mulher. Fazer reposição de hormônio, orientar a atividade física, desmistificar e quebrar tabus é necessário, porque a vida continua”, reforça Lorena