A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), por meio do Polo do Alto Rio Negro, está realizando um diagnóstico da situação de vulnerabilidade de indígenas Yanomami que vivem em comunidades isoladas nos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Em duas comunidades visitadas recentemente, a DPE-AM constatou alta incidência de malária por P. falciparum (a forma mais grave), casos de desnutrição, além da falta de estrutura das unidades de saúde.
“Nós temos acompanhado a situação para assegurar que as comunidades do lado amazonense do território Yanomami também sejam contempladas com ações emergenciais, porque a situação é bastante delicada, devido à falta de assistência. Se agirmos rápido, será possível evitar um desastre maior”, afirma a defensora pública Isabela Sales, que entre os dias 13 e 14 deste mês, esteve nas aldeias Waharo e Pahana, situadas ao longo do rio Padauari, no município de Barcelos (próximo à fronteira com a Venezuela). A medida está sendo tomada para evitar uma crise humanitária semelhante ao que vem ocorrendo com os indígenas em Roraima.
De acordo com Sales, apesar das comunidades possuírem postos médicos, a situação é de abandono e precariedade: faltam medicamentos simples como dipirona e os usados no combate a verminoses; não há energia elétrica nem tratamento de água; falta espaço adequado para internação de pacientes, dentre outros problemas estruturais. Durante a visita, verificou-se ainda a alta incidência de indígenas com malária e crianças com distensão abdominal, provavelmente causada por verminoses.
“Até o freezer onde as vacinas ficam acondicionadas está quebrado. Ou seja, não tem como armazenar esse tipo de insumo por muito tempo e as equipes de saúde acabam ficando sem uma estrutura mínima para atender os que ficam doentes”, disse.
A defensora destaca ainda que, para chegar às comunidades, as equipes de saúde são transportadas por aeronaves de pequeno porte, já que o acesso é difícil até mesmo pelo rio.
“A preocupação com essas comunidades tem aumentado, tendo em vista a crise humanitária vivenciada no Território Indígena Yanomami em Roraima. E aqui, no lado amazonense do TIY, a situação também é agravante devido à desestruturação do sistema de saúde para esses povos. E como os Yanomami são considerados indígenas de recente contato, o atendimento se torna ainda mais complexo”, complementou.
No início de fevereiro, a Defensoria solicitou ao Centro de Operações de Emergência (COE-Yanomami) a inclusão das aldeias Yanomami localizadas no Amazonas nas ações de atenção em saúde que vêm sendo realizadas em caráter emergencial pelo governo federal. Embora os trabalhos estejam concentrados prioritariamente em Roraima, a União já sinalizou positivamente para realizar a reforma das unidades de saúde que estão mais precárias no território amazonense.
Nesta quinta-feira (23), a Defensoria participou de uma reunião com a Fundação Estadual do Índio (FEI), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) e outras instituições, onde apresentou a situação encontrada em Waharo e Pahana. A partir disso, um plano de emergência no âmbito estadual também será estruturado a fim de levar assistência em saúde às comunidades mais afetadas, principalmente para controle de doenças como malária, tuberculose e outras doenças evitáveis.