Em um cenário de crescente volatilidade econômica e política, proteger o patrimônio contra as oscilações cambiais tornou-se uma prioridade para investidores. Segundo dados da ANBIMA, os fundos cambiais registraram uma captação líquida de R$ 314,2 milhões em maio de 2025, destacando-se como uma opção relevante em momentos de incerteza . Mas o que exatamente são os fundos cambiais e como eles podem ser utilizados de forma estratégica?
Os fundos cambiais são veículos de investimento que buscam acompanhar a variação de moedas estrangeiras, principalmente o dólar americano, mais a diferença de juros do Brasil em relação à taxa de juros americana. Hoje essa diferença está em aproximadamente 9% ao ano.
Os fundos cambiais são uma das alternativas de investimento no mercado exterior, sem retirar o capital do Brasil. Outras alternativas são investir em BDRs (recibos de ativos estrangeiros) ou ETFs (fundos de ativos estrangeiros).
No caso específico de fundos cambiais, estes investem majoritariamente em ativos atrelados à moeda estrangeira, como contratos futuros de dólar. Dessa forma, proporcionam ao investidor uma exposição indireta à moeda, servindo tanto para proteção quanto para diversificação da carteira.
Importante atentar que um fundo cambial pode render mais ou menos do que ter renda fixa dolarizada diretamente.
“O fundo cambial não é necessariamente para ganhar dinheiro com o dólar, mas para proteger a carteira em cenários adversos ao real, como crises fiscais, políticas ou mesmo eventos internacionais que impactem o Brasil”, explica Otávio Paranhos, consultor especializado em investimentos.
“É impossível acertar o melhor momento de comprar dólar, ou de acertar uma crise fiscal, mas uma alocação constante e estrutural em outras moedas é sempre saudável”, afirma.
“O maior erro que vejo é o investidor colocar dinheiro em fundo cambial só porque acha que o dólar vai subir. Isso pode até acontecer, mas o fundo cambial deve ser encarado principalmente como um seguro, não como uma aposta”, pontua Otávio.
A tributação dos fundos cambiais segue a mesma regra dos fundos de renda fixa, com alíquotas regressivas que variam de 22,5% a 15%, conforme o prazo de aplicação. Além disso, estão sujeitos ao “come-cotas”, uma antecipação do imposto de renda que ocorre semestralmente. Por isso, é fundamental considerar o horizonte de investimento e os objetivos financeiros ao optar por essa modalidade, que é mais próxima da renda fixa em dólar.
Segundo Otávio, os fundos cambiais são especialmente indicados para quem possui despesas futuras em moeda estrangeira, como viagens, cursos no exterior ou investimentos internacionais. “É uma forma inteligente de planejar o futuro com previsibilidade. Ao invés de correr atrás do câmbio no momento da necessidade, o investidor pode ir se protegendo aos poucos”, afirma.
Empresas que operam com importação ou exportação também podem se beneficiar dos fundos cambiais para mitigar riscos cambiais em suas operações. A exposição ao dólar pode ajudar a preservar margens e garantir maior estabilidade financeira em ambientes voláteis.
É importante ressaltar que os fundos cambiais não devem representar uma parcela significativa da carteira de investimentos, exceto em situações muito específicas.
Para uma alocação estrutural no exterior, melhor outros instrumentos. Fundos cambiais funcionam melhor como um complemento dentro de uma alocação diversificada. “Cada vez mais os brasileiros percebem que investir fora do Brasil, ou pelo menos se proteger da economia local, é um caminho de prudência. O fundo cambial pode ser um primeiro passo para essa visão mais ampla de gestão de patrimônio”, conclui Otávio Paranhos.
Com a alta dos juros nos Estados Unidos e a instabilidade fiscal brasileira ainda no radar, a exposição ao dólar segue relevante. Cabe ao investidor, com orientação especializada, decidir se é o momento de reforçar a defesa do seu portfólio, e se o fundo cambial pode ser o escudo certo.