O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o neurodesenvolvimento do indivíduo. Caracteriza-se por dificuldades na interação social, na comunicação e por comportamentos ou interesses res- tritos e repetitivos. Em cada um, apresenta-se de forma diferente. Mas um sintoma, em especial, é bem comum em cerca de 80% das crianças com TEA: a dificuldade para adormecer e manter um sono de qualidade.
A neurologista infantil, neurofisiologista clínica e membro da Associação Brasileira do Sono, Letícia de Azevedo Soster, explica por que o distúrbio do sono é tão prejudicial para as crianças com TEA. “O desenvolvimento e a maturação neuronal, a construção de sinapses e a poda cerebral acontecem no período do sono. Portanto, essa fisiologia do desenvolvimento pode ficar ainda mais comprometida com o sono de má qualidade”, alerta. “Há consequências também físicas: o GH, o hormônio do crescimento, é liberado principalmente na primeira metade do sono. Se a criança tem o sono entrecortado, também essa liberação será minimizada”.
Soster explica que os distúrbios do sono são tanto de natureza orgânica como comportamental. “Do ponto de vista homeostático, notamos que a criança com TEA ou não gasta muita energia ou, se gasta, fica mais alerta, como se estivesse habituada a viver com o cansaço”. Outra hipótese, já confirmada em alguns estudos, é que algumas crianças com TEA têm uma redução na produção de melatonina – um hormônio produzido pela glândula pineal, localizada no cérebro, cuja função é regular o ritmo biológico do corpo e estimular o sono no período noturno. A neuropediatra aponta, ainda, outros fatores que podem levar aos distúrbios do sono. Um deles é a apneia obstrutiva do sono, causada principalmente pelo relaxamento dos tecidos da faringe e da base da língua, o que altera a respiração durante o sono. O outro tem base comportamental: “Sentir sono é uma sensação aversiva. Frente a ela, há quem tente ir contra e o resultado é a dificuldade de adormecer”.
Independentemente da causa que resulta no distúrbio do sono em crianças com TEA, os reflexos no comportamento são claros: irritabilidade, aumento da agressividade, da agitação e dificuldade de regulação emocional, entre outras manifestações. “É importante destacar que, embora os distúrbios do sono sejam altamente prevalentes em crianças, não é incomum que eles persistam na adolescência e na vida adulta, especialmente quando a causa é comportamental. É por esta razão que os pais devem ficar atentos aos sinais e compartilhar a dificuldade com o sono com os profissionais que já atendem a criança. A abordagem interdisciplinar é eficiente para minimizar os impactos que acabam por afetar toda a família”, completa Soster.
Sinais de que a criança com TEA pode sofrer com distúrbio do sono
Confira os principais sinais:
Durante o dia:
A criança pode ter dificuldade em se manter fazendo uma tarefa. A falta de sono compromete o foco.
Acorda mal-humorada e se mantém assim ao longo do dia? Este é um sinal importante.
A irritabilidade é evidente, assim como uma maior agressividade. Há uma baixa tolerância à frustração.
A agitação é outro sintoma que precisa ser considerado. Pode ser uma reação para ‘driblar’ a sonolência,
uma sensação aversiva para alguns.
Durante à noite:
A criança tem dificuldades ou resiste em adormecer.
Se a criança ronca enquanto dorme, pode ser um importante sinal de alguma dificuldade respiratória.
Note se a respiração é ruidosa ou trabalhosa.
Observe, ainda, se a respiração é feita pelo nariz ou pela boca, neste caso, pode indicar que há algum problema.
Normalmente, a criança com distúrbio do sono acorda diversas vezes durante o sono ou se mexe excessivamente.
Sobre a Associação Brasileira do Sono
https://www.instagram.com/absono/
Fundada em Agosto de 1985 com o nome Sociedade Brasileira do Sono, a instituição congrega todos os profissionais brasileiros que estudam sono, incluindo desde áreas experimentais básicas, Biólogos, Técnicos de Polissonografia, Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Odontologistas e Médicos. A associação é fundamentalmente desde sua origem multidisciplinar e a lista de especialistas que participam da sociedade não para de crescer.
Com o passar dos anos a sociedade se adaptou aos desafios e, desde 2005, passou a se chamar Associação Brasileira do Sono (ABS). Agrega também sob o mesmo teto e com direção compartilhada as sociedades co-irmãs: Associação Brasileira de Odontologia do Sono (ABROS) e Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), ambas criadas para atender necessidades específicas de dentistas e médicos.
A ABS é reconhecida mundialmente. A associação promove inúmeras atividades, incluindo cursos, reuniões com a sociedade civil e com os gestores de políticas públicas, além de promover diálogo constante com a sociedade sobre os mais diversos temas relacionados ao sono. A Associação Brasileira do Sono é responsável também pelo periódico cientifico Sleep Science, revista publicada em inglês com reconhecimento mundial, recebendo artigos científicos originais de todas as partes do planeta.
As regionais do sono estão presentes em 22 estados do Brasil.