O aumento no número de diagnósticos de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem gerado debates entre especialistas.
“Graças ao maior acesso à informação, profissionais de saúde mental, educadores e pais agora entendem melhor os traços associados a esses transtornos”, diz Filipe Colombini, psicólogo parental. “Essa conscientização aumentada levou a uma identificação mais precisa e oportuna, permitindo que os indivíduos recebam suporte apropriado mais precocemente na vida”, conclui.
Além disso, os avanços em métodos de avaliação aumentaram a identificação de pessoas neurodivergentes com apresentações “difíceis de serem notadas na superfície”.
“É notável que a expansão dos critérios diagnósticos desempenhou um papel significativo no aumento da identificação de autismo e TDAH”, afirma Colombini. “Até meados dos anos 2000, estes marcadores eram mais restritos, focando em comportamentos observáveis específicos. Portanto, seu aprimoramento ajuda a garantir que os indivíduos recebam suporte e intervenções adequados, adaptados às suas necessidades”, conclui.
Vale destacar, ainda, que esta elevação ajudou a reduzir os estigamas em torno do autismo e do TDAH. À medida que mais indivíduos recebem diagnósticos precisos, eles são capacitados para compartilhar suas experiências, defender suas necessidades e contribuir para discussões públicas. “Essa visibilidade promove compreensão, empatia e aceitação dentro da sociedade e contribui para que as comunidades, escolas, locais de trabalho e sistemas de saúde percebam que é preciso se acomodar às necessidades de indivíduos neurodivergentes, promovendo uma sociedade mais equitativa”, diz o psicólogo.
Mas, se por um lado o crescimento está ligado à maior conscientização, este fato também levanta preocupações. “Estamos mais informados, o que é positivo, mas precisamos ter cautela para evitar diagnósticos apressados, sem o devido acompanhamento multidisciplinar”, diz o psicólogo. Ele reforça a importância de uma avaliação completa e cuidadosa de cada criança, que considere diferentes aspectos do comportamento. “É comum que distrações ou dificuldade de socialização sejam mal interpretados. Cada caso exige uma análise minuciosa, feita por uma equipe especializada”, explica ele.
Para crianças e adolescentes devidamente diagnosticados com TDAH ou TEA, o suporte terapêutico é uma das principais ferramentas para melhorar a qualidade de vida. Segundo Colombini, essa abordagem trabalha o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e comportamentais, permitindo que o indivíduo desenvolva mais autonomia e controle sobre suas próprias dificuldades. “A terapia ajuda o pequeno a entender melhor suas emoções e a desenvolver mecanismos para lidar com situações do dia a dia, tornando-se mais resiliente”, destaca.
A medicação, por exemplo, pode ser necessária em alguns casos de TDAH, mas ela deve ser associada à terapia contínua, especialmente a cognitivo-comportamental, para melhores resultados a longo prazo.
É fundamental que o acompanhamento envolva a família, a escola e os profissionais de saúde mental, proporcionando à criança um ambiente de suporte contínuo. “Quando pais, educadores e terapeutas trabalham juntos, a criança recebe todo o apoio necessário para crescer e se desenvolver de forma saudável e integrada à sociedade”, diz Colombini.