As chuvas do ‘inverno amazônico’ devem seguir constantes pelo menos até maio, causando alagações e prejuízos à saúde, sobretudo em locais de pouca urbanização e rede de esgoto precária (ou sem ela). Por conta disso, especialistas alertam para casos de doenças ligadas diretamente ao contato com água contaminada, a exemplo da leptospirose, febre tifoide, cólera e hepatite A.
Conhecidas como ‘doenças de veiculação hídrica’, essas enfermidades podem ser transmitidas tanto pelo contato humano com água que contenha algum patógeno (transmissor de doença), como pela ingestão de alimentos higienizados com o líquido contaminado. É o que explica o infectologista, Marcelo Cordeiro.
“O contágio dessas doenças depende de uma série de fatores, como quantidade do agente infeccioso na água, se há uso de roupas ou equipamentos de proteção individual, se a água foi ingerida ou apenas houve contato corporal e até a imunidade da pessoa exposta. Algumas doenças são mais transmitidas pelo contato com a água, como a leptospirose. Já outras, pela ingestão de água ou de alimentos contaminados, como a febre tifóide e o cólera”, afirma o especialista.
Cordeiro dá algumas orientações que podem ajudar a reduzir o risco de contaminação por alguma dessas doenças. “Em primeiro lugar, é essencial sempre consumir água de procedência conhecida e tratada. Segundo: higienizar muito bem as mãos antes de se alimentar, e terceiro, evitar exposição a áreas alagadas, mas se não houver alternativa, utilize equipamentos de proteção individual, como botas”.
Conforme o Ministério da Saúde (MS), a categoria de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) abrange mais de 250 tipos de enfermidades em todo o mundo, causadas por bactérias, vírus, parasitas ou substâncias químicas. Mas apesar da variedade de doenças, o MS ressalta que os sintomas mais comuns são parecidos: náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, falta de apetite e febre.
Diagnóstico
Em caso de suspeita para uma das doenças citadas, o primeiro passo é procurar atendimento médico. A partir dos sintomas apresentados, o profissional poderá solicitar exames e testes para rastrear a existência (ou não) da enfermidade. A avaliação das fezes e de amostras de sangue costuma ser o procedimento mais utilizado na investigação das DTHA.
“Cada uma dessas doenças tem uma maneira específica de ser diagnosticada. Por exemplo: a hepatite A e a leptospirose são identificadas por meio do exame de sangue. Já a febre tifóide, além do mesmo exame, pode também ser rastreada por exame de cultura nas fezes e até na medula óssea. Daí a importância de sempre procurar os serviços de saúde para que o profissional médico possa indicar a melhor conduta para cada caso”, explica Marcelo Cordeiro.
Dados
Somente em 2021, foram ao menos 268 surtos – quando são identificadas duas ou mais pessoas com quadro clínico semelhante e relação de consumo comum – causados por DTHA, no Brasil. Os números são do Informe Sobre Surtos de DTHA, do Ministério da Saúde. Segundo números preliminares, de 2012 a 2021, foram mais de 100 mil doentes ligados a 6.347 surtos registrados no país.
Neste mesmo período, o local de ocorrência mais comum para os surtos foi a própria residência (37,7%) do paciente. Já a água foi identificada como o alimento mais comum (25,2%) entre os casos de transmissão nos surtos de DTHA. Por fim, a bactéria Escherichia coli foi considerada o agente causador mais comum entre os casos (29,6%). Ela é transmitida pela água e alimentos contaminados e pode causar infecções urinárias, diarreia e colite (cólica) hemorrágica.