A campanha de conscientização sobre o câncer de próstata, realizada em novembro e popularmente conhecida como Novembro Azul, não serve só como um alerta para os cuidados com a saúde física masculina, mas também impulsiona uma discussão mais ampla sobre o bem-estar mental dos homens.
Esse é um tema que carrega estigmas e tabus que dificultam a busca por apoio e tratamento adequado, o que é especialmente preocupante considerando que a taxa de suicídio entre homens é quatro vezes maior do que a das mulheres no Brasil. São 9,9 casos por 100 mil habitantes, em comparação com 2,6 entre as mulheres.
A diferença acentuada reflete uma dificuldade profunda que os homens enfrentam para buscar ajuda profissional. A pressão para corresponder a uma imagem de “força inabalável” e a imposição de um papel de “provedor” reprimem a saúde emocional, resultando em um ciclo de sofrimento silencioso. Com expectativas enraizadas e falta de suporte, muitos se sentem isolados por não terem amigos ou familiares com quem compartilhar as vulnerabilidades sem julgamentos.
Por isso, é comum que os homens recorram ao abuso de álcool e outras substâncias como uma forma de lidar com o estresse e outros problemas psíquicos. Esse comportamento atua como uma “válvula de escape” que mascara, mas não resolve, a raiz do sofrimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que homens são mais propensos ao uso de substâncias como cannabis e álcool.
Mesmo que sejam citadas ocorrências após a maioridade, pode-se dizer que os primeiros anos são decisivos para reforçar desconfortos que se perpetuam pela vida inteira. Desde cedo, meninos são ensinados a “engolir o choro” e a minimizar a exposição de sentimentos, o que, consequentemente, cria uma barreira para o apoio emocional.
Essa cultura de masculinidade tóxica impõe metas irreais sobre o que significa ser homem. Quando crianças, esse “senso comum” imposto pela sociedade impacta a jornada dos jovens que, quando adultos, se deparam com redes sociais que moldam a figura masculina de forma irreal – sempre bem-sucedidos e seguros de si, o que contribui para a intensificação dos casos de transtornos mentais, principalmente quando somados a outras problemáticas. Homens diagnosticados com câncer de próstata, por exemplo, podem desenvolver sintomas de ansiedade e depressão, que se sobrepõem e agravam o quadro.
Entretanto, por mais que a internet tenha contribuído para a construção de um ideal inadequado do que é ser homem, ela também foi responsável por expandir a “nova masculinidade” – um conceito que valoriza a saúde emocional e permite que homens compartilhem desafios sem medo de julgamentos. Cada vez mais, influenciadores focados no público masculino estão compartilhando rotinas de autocuidado e a importância da terapia não ser estabelecida como algo estigmatizado, independente do gênero.
Ainda assim, perpetuar essa visão é uma responsabilidade que ultrapassa a alçada dos criadores de conteúdo. É preciso cuidar dos meninos. Familiares devem estabelecer a importância do bem-estar psicológico masculino desde cedo, ensinando a reconhecer, aceitar e expressar sentimentos. O mesmo serve para as escolas e o restante da comunidade. A educação emocional deve ser parte integral da criação dos homens.
Essa nova visão não nega a masculinidade, mas redefine o que é ser homem: inclui empatia, autenticidade e coragem para pedir ajuda. Ao reforçar essa perspectiva desde a infância, é possível quebrar o ciclo de repressão. Só assim será plausível estabelecer gerações mais saudáveis no futuro.
*Por Diego Silva