A natação em mar aberto é um esporte que exige preparo físico adicional dos atletas acostumados com as piscinas devido às condições ambientais, como correnteza, temperatura da água, vento e contato físico, por exemplo.
Além de todos os desafios, pesquisadores do Royal United Hospitals Bath e da Universidade de Bath, no Reino Unido, alertam em um artigo publicado na edição de janeiro da revista BMJ Case Reports que o esporte pode causar edema pulmonar induzido pela natação (SIPE, na sigla em inglês), também conhecido como edema pulmonar por imersão (EPI).
A condição incomum, que afeta menos de 2% dos nadadores, foi relatada pela primeira vez em 1989. Ela é caracterizada pela falta de ar e tosse, expectoração excessiva e, ocasionalmente, tosse com sangue ao nadar em águas abertas. Os sintomas são provocados pelo acúmulo de líquido nos pulmões sem que a pessoa respire a água.
A causa do problema não é bem esclarecida. Pesquisadores acreditam que o quadro possa ter relação com alterações no fluxo sanguíneo e uma resposta mais forte dos vasos sanguíneos do pulmão ao frio durante o exercício.
Fatores de risco
O grupo de pesquisa do Reino Unido afirma que os principais fatores de risco são o tempo prolongado de natação, a temperatura baixa da água, pressão alta ou doença cardíaca, a idade do paciente e ser mulher. A ameaça aumenta significativamente após o primeiro episódio de SIPE.
“A recorrência é comum e foi relatada entre 13% e 22% dos mergulhadores e nadadores que já tiveram o edema. Os pacientes devem ser informados adequadamente sobre o alto risco de recorrência e após um episódio inicial, deve se assumir como se eles tivessem uma predisposição”, escreveram os autores do artigo.
O estudo do caso de uma mulher de 50 anos que sofreu o edema pulmonar induzido pela natação na Inglaterra mostra que além dos pulmões, o coração pode ser prejudicado.
A paciente, sem histórico de problemas de saúde, tinha realizado uma prova de triathlon com natação de longa distância em mar com temperatura de 17° C. Ela parou de nadar depois de ficar sem fôlego e continuou a se queixar de falta de ar nos dias seguintes. A mulher conta ter nadado três quilômetros sem problemas na semana subsequente, mas teve falta de ar e tosse com sangue quando tentou nadar outros 300 metros.
“Enquanto nadava em um mergulho noturno, comecei a hiperventilar e percebi que não poderia nadar mais. Quando saí, tirei a roupa de mergulho e imediatamente senti meus pulmões se enchendo de líquido. Comecei a tossir e senti um gosto metálico na boca. Quando cheguei à luz, pude ver que meu escarro era rosa e espumoso”, lembra.
Um exame de sangue mostrou níveis altos de troponina, uma proteína encontrada no músculo que pode ser liberada no sangue após danos ao coração. A ressonância magnética comprovou o edema do miocárdio, que é um inchaço no músculo cardíaco geralmente associado à presença de fluido.
Os autores do estudo recomendam que os nadadores que sentem falta de ar ou alguns dos sintomas da condição enquanto treinam ou realizam uma prova deixem a água imediatamente e procurem atendimento médico, se for necessário. É importante investigar a possibilidade de SIPE e fazer um check-up do sistema circulatório.
*Com informações do Metrópoles