O Amazonas registrou mais da metade do número de casos de febre oropouche na primeira quinzena deste janeiro, em comparação com todo o ano passado — foram 223 casos da doença nas primeiras duas semanas de 2024, contra 424 registros totalizados em 2023. Devido ao aumento expressivo de registros, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do estado emitiu um alerta epidemiológico.
Segundo o órgão estadual, não há registro de mortes. A febre oropouche causa sintomas parecidos com os da dengue e os da chikungunya:
- Dor de cabeça
- Dor muscular
- Dor nas articulações
- Tontura
- Náusea
- Diarreia
A febre oropouche é uma arbovirose, ou seja, é transmitida pela picada de um mosquito, o Culicoides paraense, também conhecido como maruim.
No entanto, de acordo com Tatyana Amorim, diretora-presidente da FVS, os mosquitos do gênero Culex – mais espalhados pelo país – também podem ser vetores. No ciclo selvagem, os hospedeiros são animais primatas e o bicho-preguiça, enquanto no ciclo urbano o ser humano continua sendo o principal hospedeiro.
“A transmissão do vírus ocorre pela picada do mosquito infectado. Não há registro de casos de transmissão de pessoa para pessoa diretamente”, explica Amorim.
O período de incubação do vírus é de quatro a oito dias, quando surgem os primeiros sinais. A manifestação dos sintomas costuma durar de cinco a sete dias, mas, segundo o alerta emitido, a recuperação total do paciente pode levar semanas.
Os casos atuais estão concentrados em adultos jovens, com idades entre 20 e 59 anos, embora existam registros confirmados em todas as faixas etárias.
O tratamento e o risco de a febre oropouche se espalhar pelo Brasil
Pelos sinais clínicos semelhantes, as arboviroses dificultam o diagnóstico correto e a intervenção médica adequada para evitar a ocorrência de formas graves e, eventualmente, mortes.
O tratamento da febre oropouche é realizado com medicamentos para tratar os sintomas e hidratação. Até o momento, não existe vacina ou um antiviral disponível para essa doença.
De acordo com a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, a emergência do vírus oropouche no Brasil está sendo alertada há anos por cientistas e pesquisadores. Para ela, esse aumento considerável no número de casos é preocupante pelo risco de a doença se espalhar para outros estados.
“O homem acaba se infectando acidentalmente ao entrar nas matas e acaba levando a infecção para as cidades, mantendo o ciclo de transmissão. Há uma grande preocupação de que ocorra surtos nas cidades”, reforça a médica.
Gouveia acrescenta que nem todos os laboratórios do país estão capacitados para a realização do diagnóstico correto.
“O vírus já pode estar circulando em algumas regiões do Brasil sem sabermos. Os casos no Amazonas podem estar refletindo apenas a ponta do iceberg”, alertou.
O Amazonas ainda não define o aumento de casos como um surto, mas reconhece a necessidade de monitoramento constante.
Como evitar a febre oropouche?
As medidas de prevenção são as mesmas de outras doenças causadas por picadas de mosquitos:
- Usar repelentes, principalmente no início e no fim do dia
- Vestir preferencialmente blusa de manga longa e calça comprida ao entrar áreas de mata e beira de rios
- Instalar telas e mosquiteiros em áreas rurais e silvestres
Segundo Amorim, da FVS, a eliminação dos criadouros do mosquito envolve evitar acúmulo de lixo, limpar terrenos, caixas d’água, cisternas, realizar vistorias para evitar água parada que propicie que os mosquitos depositem os ovos, entre outras.
A FVS também emitiu uma nota técnica orientando sobre a intensificação das ações de vigilância, prevenção e controle da doença.
Por Fernanda Bassette/Agência Einstein
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