No Dia Mundial Sem Tabaco, instituído em 31 de maio, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), comprometida com um estilo de vida saudável e o bem-estar da população, reconhece a necessidade de abordar os perigos do tabagismo, a fim de promover uma sociedade livre do fumo e das doenças que ele provoca. Com a responsabilidade de cuidar da saúde vascular, a SBACV-SP destaca a importância da união de diversas especialidades médicas para disseminar informações sobre os danos causados por este vício.
Dentre os malefícios decorrentes do ato de fumar, as alterações cardiovasculares ocupam lugar de destaque. Alguns efeitos prejudiciais do tabagismo envolvem o desenvolvimento de placas gordurosas, cálcio e outras substâncias na superfície interna das paredes arteriais. Com o passar do tempo, o crescimento dessas placas podem entupir ou romper a artérias e migrar por meio dos vasos e, como consequência, gerar complicações graves, como infarto, AVC, trombose e até mesmo a necessidade de amputação de membros.
Conforme o angiologista, cirurgião vascular e diretor da SBACV-SP, Dr. Júlio César Gomes Giusti, a camada interna dos vasos sanguíneos é representada pelo endotélio, que é considerado um órgão regulatório de grande importância na manutenção da integridade vascular e, além de modular o tônus desses vasos, também estabiliza os mecanismos inflamatórios e imunológicos dos mesmos. O tabagismo pode provocar um funcionamento inadequado do endotélio vascular, envolvendo principalmente o óxido nítrico, e desregular o relaxamento e a contração desses vasos.
Este desequilíbrio desencadeia um processo inicial de aterosclerose, caracterizado pela inflamação e formação de placas de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos. Essa condição é responsável por doenças graves, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, embolia pulmonar, obstrução das artérias das pernas e até mesmo aneurismas. O Dr. Giusti alerta que fumantes têm uma probabilidade muito maior de desenvolver coágulos sanguíneos, especialmente quando relacionados a outros fatores de risco, como obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas.
As gestantes também fazem parte do grupo de risco, uma vez que o uso do cigarro durante a gravidez está associado a um aumento significativo de várias complicações, tais como placenta prévia, ruptura prematura das membranas, descolamento prematuro da placenta, hemorragia pré-parto, parto prematuro, aborto espontâneo, restrição do crescimento intrauterino, baixo peso ao nascer, morte súbita do recém-nascido e comprometimento do desenvolvimento físico da criança. Além disso, o tabagismo durante a gestação pode resultar em má-formação fetal, aborto, mortalidade materna, natimortalidade e mortalidade neonatal (Yamaguchi, 2008).
Para pacientes fumantes que já possuem comorbidades, é fundamental contar com uma abordagem multidisciplinar, que envolve especialistas como angiologistas, cardiologistas, nutricionistas, psicólogos e outras áreas relevantes. Essa equipe de profissionais pode oferecer orientações sobre os distúrbios causados pelo tabaco, já que diversas condições de saúde estão relacionadas a sistemas e órgãos do corpo humano de forma interligada.
Conforme a cardiologista, nutróloga e culinary coach, Dra. Karla Gouvea, o hábito de fumar leva ao aumento de substâncias como epinefrina e norepinefrina, que levam a uma aceleração dos batimentos do coração, da velocidade da passagem do sangue e, ao mesmo tempo, o estreitamento desses vasos dificulta o caminho do fluxo. Todo esse processo está relacionado à hipertensão arterial sistêmica, além de graves complicações. O tabagismo causa a inflamação do tecido que cobre as artérias pela parte interna, podendo provocar também um desequilíbrio neste processo de tônus pressórico.
O tabaco representa um grave risco para a saúde de pessoas de todas as idades. Segundo a Dra. Karla, cerca de 40% dos adolescentes experimentam o cigarro, e desse grupo, 8% acabam desenvolvendo o hábito de fumar. A nicotina é altamente viciante, e muitos indivíduos se tornam dependentes após alguns dias ou semanas de uso. Apenas 44% dos jovens conseguem resistir ao cigarro, e possuem uma maior propensão para desenvolver dependência em comparação com os adultos. A falta de uma decisão firme de não fumar e a desinformação sobre as consequências são fatores-chave que levam os jovens a experimentar o cigarro. “É essencial destacar que todo adolescente que usa cigarros, narguilés ou dispositivos de fumo eletrônicos está sujeito a diversos riscos relacionados à saúde” afirma a Dra. Karla.
A médica ainda ressalta que os fumantes passivos, expostos por longos períodos à fumaça do tabaco, absorvem em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que os fumantes ativos. Essa exposição pode resultar em uma série de problemas, desde reações alérgicas como rinite, tosse e conjuntivite, além do agravamento da asma em curto prazo, até doenças graves como câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e outras patologias sérias.