Segundo o levantamento recentemente divulgado pelo IBGE, através dos resultados concluídos pelo Censo 2022, a população brasileira possui aproximadamente 20 milhões de diabéticos. Já a IDF (Federação internacional de Diabetes), entidade que reúne mais de 240 associações de diabetes em mais de 161 países e territórios, o Brasil se encontra em 5º lugar no ranking mundial de países com mais pessoas com diabetes no geral e o 3º lugar quando se fala em diabetes Tipo 1. Apesar da patologia ser comum entre os brasileiros, a falta do diagnóstico ainda é uma realidade, apresentando diversos riscos à saúde, enquanto a procura pela insulina também registra um constante crescimento.
Há duas semanas (26/04), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da inauguração da fábrica de insulina da empresa Biomm, em Minas Gerais. A nova unidade será responsável por retomar a produção do hormônio no país após 20 anos da dependência da importação de produtos, a empresa também promete ter a capacidade de suprir a demanda nacional de insulina, já que planeja fabricar cerca de 20 milhões de unidades de refis de insulina glargina em cada ano. Em 2023, o Ministério da Saúde realizou uma compra emergencial de mais de 1 milhão de unidades do hormônio na sua versão asparte, que possui ação rápida, já que as insulinas regulares estavam à risco de desabastecimento.
A falta de informação e de acesso a tratamentos gratuitos serviu de combustível para a carioca Beatriz Scher criar uma comunidade virtual em prol da conscientização sobre a doença. Diagnosticada com diabetes tipo 1 aos seis anos de idade, a “influencer da diabetes” hoje conta com 50 mil seguidores em suas redes sociais, canal por onde compartilha desde conteúdos simples, sobre como usar a bombinha de insulina, até temas mais profundos, como a integração social dos diagnosticados com a condição. Seu boom na internet começou quando Scher compartilhou sobre o tratamento gratuito que conseguiu pelo governo, via ação judicial, e que no particular custaria mais de R$ 20 mil.
“Quando quis mudar a minha bombinha de insulina por uma mais moderna, comecei a pesquisar sobre o assunto na internet, mas todos os conteúdos que eu achava eram do exterior. Não encontrei nenhum blog ou influencer que abordasse o uso dos tratamentos e outros dados atrelados ao universo da diabetes no Brasil. A minha bomba de insulina custaria mais de R$ 20 mil no particular, mas eu consegui de forma gratuita através de uma ação judicial, uma vez que o SUS só fornecia a canetinha. Eu queria que outros com a mesma condição que a minha tivesse acesso a essa informação e, quando pesquisassem, pudessem encontrar um canal que fornecesse todo o passo a passo de como conseguir e usar esse tratamento, foi aí que surgiu o @biabética”, comenta a carioca de 30 anos.
Existem dois tipos diferentes da doença, o tipo 1, condição de Beatriz, – que é uma condição autoimune diagnosticada principalmente em crianças e adolescente – e o tipo 2, conhecida como diabetes mellitus, que é mais comum. O Tipo 1 é causado pela destruição das células produtoras de insulina, em decorrência de defeito do sistema imunológico, em que os anticorpos atacam as células que produzem a insulina e ocorre em cerca de 5 a 10% dos diabéticos. Já o tipo 2, resulta da resistência à insulina e de deficiência na sua produção pelo pâncreas, e ocorre em cerca de 90% dos casos.
“É natural que durante a puberdade exista uma descompensação nos níveis hormonais e isso me fazia ter episódios frequentes de hiperglicemia, que é quando a glicose sobe muito. Isso causava muita instabilidade glicêmicoa. Ao mudar meu tratamento para a bomba de insulina, passei a ter mais estabilidade na glicemia e ganhei muito mais autonomia e liberdade”, relata Scher.
Mas nem todos têm a mesma sorte de Beatriz, que conseguiu através de uma ação judicial o direito de ter a bomba de insulina fornecida pelo SUS – Sistema Único de Saúde. Esses aparelhos custam em torno de R$20 mil e não são custeados pelo governo. Estima-se hoje que existem 20 milhões de diabéticos no Brasil e 10% desse montante, são de pessoas com a mesma condição da Beatriz, que dependem da aplicação de insulina para sobreviver.
Desde março de 2017, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) incorporou ao SUS duas novas tecnologias para o tratamento do diabetes, a caneta para injeção de insulina, para proporcionar a melhor comodidade na aplicação, facilidade de transporte, armazenamento e manuseio e maior assertividade no ajuste da dosagem, e a Insulina análoga de ação rápida, que são insulinas semelhantes às insulinas humanas, porém com pequenas alterações nas moléculas, que foram feitas para modificar a maneira como as insulinas agem no organismo humano, especialmente em relação ao tempo para início de ação e duração do efeito.
De acordo com o Ministério da Saúde, para os que já têm diagnóstico de diabetes, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta gratuitamente, já na atenção básica, atenção integral e gratuita, desenvolvendo ações de prevenção, detecção, controle e tratamento medicamentoso, inclusive com insulinas. No entanto, apesar do governo disponibilizar as canetas de injeção de insulina, as bombas que promoveriam uma qualidade de vida muito maior aos mais de 588 mil brasileiros dependentes da substância, seguem custando muito caro e a única maneira de conseguir um dispositivo desses gratuitamente, ainda é lutando na justiça.