Ser excluído na brincadeira ou ser cancelado nas redes sociais? A rejeição é temida desde sempre pelo ser humano, mas recentemente um estudo comprovou que a área do cérebro ativada nestes casos é a mesma que a dor física. Telma Abrahão, especialista em neurociência e traumas, comenta essa conexão e explica as conclusões do experimento.
“O Cyberball Experiment é um estudo que investiga os efeitos psicológicos da exclusão social por meio de um jogo de computador. Na conclusão do estudo, os pesquisadores observaram que a rejeição, mesmo que virtual, pode causar uma variedade de respostas emocionais e comportamentais negativas nas pessoas que são excluídas”, comenta.
Sentimentos de angústia, tristeza, raiva e até mesmo comportamentos compensatórios, como o desejo de se reconectar com os outros ou a busca por formas de restaurar a sensação de pertencimento podem surgir na infância, em situações de rejeição, mas também podem refletir na vida adulta, permanecendo como gatilho emocional.
“Esses resultados destacam a importância do pertencimento social e da interação humana para o bem-estar psicológico e emocional das pessoas. No estudo foram identificadas diversas áreas do cérebro envolvidas que traduzem a complexidade das respostas à exclusão social, envolvendo tanto aspectos emocionais quanto cognitivos, e fornecem um entendimento maior sobre os mecanismos neurais subjacentes a essas experiências”, afirma a especialista.
Estudos, como o Cyberball Experiment, demonstram que as áreas do cérebro ativadas durante a exclusão social são semelhantes às ativadas durante a experiência de dor física.
- Córtex Cingulado Anterior (CCA): esta região está associada ao processamento emocional e à regulação da dor social, mostrando atividade aumentada quando uma pessoa se sente excluída.
- Ínsula: área envolvida na percepção e na experiência emocional, sendo ativada durante situações de exclusão social, possivelmente relacionada à sensação de rejeição.
- Córtex Pré-frontal Medial (CPFm): desempenha um papel crucial no processamento cognitivo e na regulação emocional, sendo ativada durante a exclusão social para avaliar e regular as respostas emocionais.
- Núcleo Accumbens: Este núcleo está envolvido no processamento de recompensa e motivação, mostrando atividade reduzida em resposta à exclusão social, o que pode contribuir para sentimentos de desânimo ou desmotivação.
Para Telma, essa ligação pode explicar por que a rejeição social pode ser tão emocionalmente dolorosa e por que algumas pessoas lidam melhor e outras sentem mais. “Assim como buscamos alívio para a dor física, também buscamos alívio para a dor emocional da exclusão social, procurando reconexão social ou outras formas de restaurar nosso senso de pertencimento. Portanto, entender essa semelhança nos ajuda a apreciar melhor a importância das relações sociais para nossa saúde mental e emocional”, conta.
Portanto, seja na internet ou na vida real, ser excluído dói. Para os pais, é importante acolher essa dor e ser o lugar de desabafo. “Não é possível evitar que isso aconteça, mas a segurança que as pessoas mais próximas passam, o sentir-se amado mesmo tendo sido ‘cancelado’ por outras pessoas pode fazer com que o corpo também reaja de forma diferente e supere mais rapidamente”, aconselha.
Além disso, pesquisas mostram que os mesmos neurotransmissores envolvidos na modulação da dor física, como a endorfina, também estão envolvidos na regulação da dor social. Isso significa que os mecanismos neuroquímicos que nos ajudam a lidar com a dor física também desempenham um papel na maneira como lidamos com a dor emocional da exclusão social.