A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o Burnout como uma síndrome resultante do estresse emocional no local de trabalho, que não foi gerenciado com sucesso. Ele se caracteriza por três componentes principais: a exaustão emocional (sentimentos de fadiga e esgotamento), a despersonalização (sentimentos de cinismo e distanciamento em relação ao trabalho e aos colegas) e baixa realização profissional (sentimentos de ineficácia e falta de realização no trabalho).
De acordo com o médico, diretor e professor da Faculdade CENBRAP, Marcos Mendanha, existem várias hipóteses sobre o “porquê” dos jovens de hoje estarem sofrendo mais, com frustrações e ansiedade. “Uma das hipóteses é o momento tecnológico em que cresceram, onde a velocidade de informação e eficácia é vista como normal e esperada em todas as áreas da vida. Quando o sucesso não acontece na velocidade esperada, a frustração gerada funciona como um estressor que ocasiona fadiga, Burnout e, em casos mais graves, adoecimentos”, diz .
“Outra hipótese, é o momento histórico em que vivemos, com menos escassez de alimentos e uma ampla gama de oportunidades profissionais, levando a um aumento nas ambições pessoais e existenciais. No entanto, a vida nem sempre segue nossos planos e propósitos, o que pode levar a frustrações e fadiga. Por isso, “é preciso saber viver” e encontrar um equilíbrio entre nossas expectativas e a realidade que nos rodeia”.
Sinais de alerta
É importante lembrar que o Burnout pode afetar pessoas de todas as idades, inclusive jovens. Por isso, é fundamental que os pais estejam atentos e dêem suporte emocional aos filhos, ajudando-os a encontrar um equilíbrio saudável entre trabalho, estudos e lazer.
“Os pais devem ficar atentos a qualquer mudança significativa no comportamento do jovem, como um isolamento maior, diminuição do desempenho escolar ou profissional, perda de interesse em atividades antes tidas como prazerosas, assim como alterações de humor frequentes e intensas, entre outros sinais. Essas mudanças podem ser indicativas de problemas emocionais, incluindo o Burnout”, alerta Mendanha.
Se os pais notarem esses sinais, eles devem falar com o jovem e tentar entender o que está acontecendo. “Eles devem tentar ser compreensivos e oferecer ajuda, e apoio emocional ao filho. Sempre que necessário, procurar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra para ajudar o jovem a lidar com seus problemas emocionais ou ansiosos”, aconselha o médico, que coordena estudos, cursos e eventos sobre psiquiatria e saúde mental do trabalhador.
Estresse ou síndrome de Burnout
De acordo com os estudos, há dois tipos básicos de estresse: adaptativo e não adaptativo. O adaptativo é agudo e visa nos proteger de situações extremas, enquanto o crônico e duradouro é considerado não adaptativo. A síndrome de Burnout é um estado de fadiga relacionada ao estresse crônico originado no trabalho, que pode levar ao cansaço, fadiga e, em alguns casos, ao adoecimento.
Descobertas recentes sobre a Síndrome
Existem pesquisas recentes sobre o Burnout que contribuíram para uma melhor compreensão desta síndrome e suas causas. Entre as mais recentes estão:
Um estudo publicado em 2020 na revista científica “Frontiers in Psychology” que analisou os fatores de risco para o Burnout em enfermeiros durante a pandemia de COVID-19. O estudo identificou que o aumento do trabalho emocional, a falta de recursos e o medo de contágio foram os principais fatores de risco para o Burnout nestes profissionais de saúde.
Já o estudo publicado em 2021 na revista científica “Journal of Occupational Health Psychology” investigou a relação entre a autogestão e o Burnout em trabalhadores que atuaram em home office durante a pandemia de COVID-19. O estudo descobriu que a autogestão eficaz estava associada aos níveis mais baixos de Burnout.
Essas pesquisas destacam a importância de se compreender os fatores de risco para o Burnout e de se buscar estratégias eficazes para prevenir e tratar esta síndrome.
Tratamento e cura
A OMS considera o Burnout como uma fadiga relacionada ao trabalho. “Um estágio posterior ao cansaço e anterior ao adoecimento, cujo tratamento, então, passa por dois aspectos. Primeiro, o organizacional: a instituição precisa rever seu modus operandi no sentido de que haja promoção da saúde mental, e não destruição dela. Evitando a fadiga, evita-se o Burnout e transtornos mentais advindos do estresse crônico no trabalho”, esclarece o médico Marcos Mendanha. “Isso, em última instância, gerará maior lucratividade e economia para as organizações e já existem dados consolidados que provam isso”.
“Segundo aspecto, individual: é necessário que o próprio trabalhador, maior interessado em sua própria saúde mental, se cuide. Por exemplo: dormindo melhor, alimentando-se melhor, praticando atividades físicas, cultivando vínculos sociais reais saudáveis e alegradores, praticando uma boa espiritualidade, e o autoconhecimento, por exemplo.
Sobre Marcos Mendanha
É médico, diretor e professor da Faculdade CENBRAP, onde realiza e coordena estudos, cursos e eventos sobre Psiquiatria e saúde mental do trabalhador há mais de 10 anos. É especialista em Medicina do Trabalho e também em Medicina Legal e Perícia Médica.
É advogado especialista em Direito do Trabalho; pós-graduado em Filosofia; e professor convidado da pós-graduação em Medicina do Trabalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
É autor dos livros “O que ninguém te contou sobre Burnout – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora Mizuno), “Medicina do Trabalho e Perícias Médicas – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora LTr), e “Limbo Previdenciário Trabalhista – Causas, consequências e soluções à luz da jurisprudência comentada” (Editora Mizuno); e coautor de várias obras. É coordenador do Congresso Brasileiro de Psiquiatria Ocupacional (CBPO) e do Congresso Brasileiro de Medicina do Trabalho e Perícias Médicas (CBMT PM).