Em junho deste ano, a cidade de São Paulo acendeu um alerta por conta do aumento nas notificações da doença coqueluche no município. Na capital paulista, até o último dia 5, foram registrados 105 casos, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Já em todo o estado foram registrados 139 casos de coqueluche até a 23ª semana epidemiológica deste ano, encerrada em 8 de junho, representando alta de 768,7%, segundo o governo estadual.
Para o médico clínico-geral Marcelo Bechara, grande parte do aumento no número de pessoas infectadas se dá pela resistência à imunização. “A doença não era erradicada, mas estava controlada. Tinha um caso e outro, era bem difícil a alta infecção. Na minha experiência médica, cheguei a ter contato apenas com um caso confirmado. A vacina controlava e quando pegavam, era de maneira moderada”, relata o médico.
Esse fator é notado no perfil dos pacientes, que, em sua maioria, pertencem ao público que ainda depende dos pais ou responsáveis para a vacinação, como adolescentes de 10 a 19 anos e, especialmente, crianças abaixo dessa faixa etária. Bebês menores de um ano estão mais propensos à doença, pois podem não estar vacinados ou ter completado o esquema vacinal.
“As crianças menores de um ano, que geralmente não estão vacinadas, podem ter sintomas mais agravados, como infecção respiratória, dor de ouvido e garganta, podendo levar a febre alta, convulsão e, por vezes, resultar em morte. É importante deixar a vacinação infantil em dia para evitar o retorno desses para o nosso cotidiano”, revela Bechara.
Embora as queixas de coqueluche tenham diminuído, a doença nunca deixou de circular. No ano passado, o estado de São Paulo, registrou 16 casos confirmados. Agora, com a piora da cobertura vacinal, a tendência é se elevar.
Com a escalada, as autoridades de saúde intensificaram as medidas de prevenção e controle para evitar a doença e proteger a população, especialmente os grupos de risco, como bebês e crianças pequenas.
Vacina garante a prevenção
Para prevenir, o imunizante é conhecido como pentavalente (DTP/HB/Hib) na rede pública e distribuído pelo Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI). Neste caso, a vacinação deve acontecer nos primeiros meses de vida, aos 2, 4 e 6 meses de idade, com 60 dias de intervalo nas doses. Até o momento, a cobertura vacinal estadual ainda se mantém em 76,3% para este público.
Para profissionais de saúde e grávidas, a vacina adsorvida difteria, tétano e coqueluche (dTpa) é a recomendada. No caso das gestantes, o imunizante deve ser administrado a cada gestação, a partir da 20ª semana, auxiliando em uma carga de anticorpos maior quando o bebê nasce.
“Mesmo com o reforço das medidas de proteção, ainda é surreal a baixa adesão à vacina e isso representa um problema de saúde pública, se continuarmos assim, outras enfermidades retornam, além da coqueluche, como a tuberculose, hepatite e tétano”, afirma o especialista.
Com o aumento nos casos, o DPNI ampliou a vacinação de profissionais de berçário e creches que atendem crianças de até 4 anos.
Histórico
A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, transmitida pela bactéria Bordetella pertussis, principalmente por meio de gotículas de secreções expelidas durante a fala, tosse e pelo espirro.
“Além da vacinação, é importante estar atento quando alguém está infectado, para evitar contato com a pessoa, pois a transmissão é muito fácil. Como medida de prevenção é importante também cobrir a boca ao tossir, higienizar as mãos e, se necessário, usar máscara em público”, reflete Bechara.
Na fase inicial, nomeada de catarralque, é uma tosse comum, semelhante a um quadro gripal, que dura até duas semanas, marcada por pouca febre, mal-estar geral e coriza. Quando a doença evolui, chama-se fase paroxística, ainda com febre baixa, mas com crises de tosse súbitas, rápidas e curtas, comprometendo a respiração.
A melhora vem com a fase de convalescença, onde se diminui os sintomas anteriores em frequência e intensidade, mas se mantém uma tosse mais leve.
Surto na Europa e Ásia
A Europa e a Ásia vêm sofrendo com surtos da doença. Somente entre janeiro e março de 2024, foram registrados 32 mil casos de coqueluche na Europa, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC). Este aumento tem sido significativo e observado, principalmente, em vários Estados-Membros da União Europeia (UE) e do Espaço Econômico Europeu (EEE), incluindo Bélgica, Croácia, Dinamarca, Espanha, Suécia, Noruega e Países Baixos.
Já o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China (CCDC) informou que, em 2024, foram notificados no país 32.380 casos.