A forma como cães e gatos interagem com o ambiente ao seu redor tem relação direta com a socialização e com o aprendizado de regras básicas de convivência. A avaliação é de André Faim, empresário do setor pet e cofundador da Lobbo Hotels e da plataforma Trabalhe pra Cachorro, que defende a importância de educar os animais desde os primeiros meses de vida para garantir seu bem-estar físico e emocional, especialmente em ambientes coletivos.
Segundo Faim, que atua há mais de sete anos com gestão e qualificação profissional no setor, a ausência de socialização pode gerar quadros de ansiedade, agressividade e medo. “O comportamento de um pet bem-educado é fruto de uma construção. Ensinar desde cedo como interagir com pessoas, com outros animais e até com barulhos e movimentos urbanos torna a vida do animal mais tranquila, além de evitar acidentes e estresse para os tutores”, explica.
Dados do Instituto Pet Brasil (IPB) apontam que o país conta com cerca de 149,6 milhões de animais de estimação, tornando o Brasil o terceiro maior mercado pet do mundo. Com mais famílias humanizando seus pets, a demanda por serviços especializados, como creches, adestramento e hospedagem, também cresce. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) revelou que o setor movimentou R$ 58 bilhões em 2023.
A recomendação para que a socialização comece nos primeiros meses de vida não é recente e já é amplamente reconhecida por entidades internacionais. A American Veterinary Society of Animal Behavior (AVSAB), por exemplo, orienta que o período entre a terceira e a décima segunda semana de vida é fundamental para que cães sejam expostos, de forma positiva, a diferentes estímulos. Esse intervalo é considerado uma janela crítica de aprendizado, em que experiências bem conduzidas podem prevenir medos, comportamentos agressivos e dificuldades de adaptação ao longo da vida do animal.
Nesse contexto, a educação comportamental de cães e gatos ganha protagonismo. A Lobbo Hotels, maior rede de creches e hotéis pet do Brasil, implementa rotinas de socialização em seus programas de hospedagem e atividades diárias. “Nós promovemos interações controladas, respeitando o perfil comportamental de cada animal. Assim como uma criança precisa aprender a dividir e respeitar o espaço do outro, os cães também precisam dessas vivências”, afirma Faim.
Entre as práticas de etiqueta recomendadas por especialistas estão comandos simples de obediência, como sentar e esperar, o hábito de não pular em pessoas e o treinamento para lidar com sons altos e movimentação intensa. Essas orientações, segundo Faim, não têm como objetivo domesticar em excesso, mas proporcionar segurança tanto para o animal quanto para as pessoas ao redor.
Além dos benefícios em casa, a socialização também se reflete na adaptação do pet a locais públicos, como parques, clínicas e hotéis. Os animais que foram expostos a diferentes estímulos desde filhotes tendem a lidar melhor com situações inesperadas, facilitando o manejo pelos tutores e por profissionais. “É comum recebermos animais com dificuldades para ficar sozinhos, interagir com outros cães ou até mesmo caminhar na coleira. Esses desafios podem ser evitados com um processo de educação precoce”, diz.
A saúde emocional dos animais também é impactada. Estudos da Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre comportamento organizacional em ambientes de alta demanda, adaptados ao universo pet, mostram que estímulos positivos frequentes reduzem comportamentos destrutivos e crises de ansiedade. No ambiente doméstico, isso significa menos latidos excessivos, comportamentos compulsivos e mais tranquilidade no dia a dia.
André separou cinco dicas práticas para ajudar tutores, principalmente de cães de grande porte a estabelecerem regras de socialização dentro de casa garantindo bem-estar, segurança e harmonia para todos:
- Defina limites desde cedo (e mantenha a consistência)
Ensine seu cão quais espaços ele pode ou não frequentar. Use comandos simples como “não” ou “para fora” e reforce com recompensas quando ele respeitar os limites. Portões internos ou barreiras podem ajudar nesse processo. - Ensine comandos básicos de convivência
Sentar, deitar, esperar e vir quando chamado são fundamentais, principalmente com cães grandes. Eles ajudam a controlar o animal em situações sociais, como visitas em casa ou a chegada de entregadores. - Reforce comportamentos positivos com recompensas
Ao socializar seu cão com familiares e visitas, premie atitudes calmas e respeitosas. Isso ajuda o animal a entender que a tranquilidade gera benefícios — como carinho, petiscos ou brinquedos. - Estimule o contato gradual com diferentes pessoas e estímulos
Não exponha o pet a um ambiente cheio de gente de uma só vez. Comece com encontros breves e com uma ou duas pessoas. Deixe o cão se aproximar no seu tempo e respeite os sinais de desconforto. - Gaste energia antes de socializar
Cães grandes com energia acumulada podem reagir de forma exagerada. Antes de um momento social, como uma visita em casa, faça uma caminhada ou brincadeira mais intensa para que ele esteja mais tranquilo e receptivo.
Para Faim, socializar é, acima de tudo, cuidar. “Não se trata de adestrar apenas por conveniência, mas de promover qualidade de vida. Um pet que compreende limites e se sente seguro diante de novas situações vive melhor e convive melhor com todos à sua volta”, conclui.
Com o crescimento do setor e a maior exigência dos tutores, o comportamento animal deixa de ser um detalhe e passa a ser um diferencial competitivo para profissionais e empresas do segmento. A etiqueta pet, antes vista como algo supérfluo, hoje é sinônimo de cuidado e respeito na relação entre animais e humanos.