Que o mercado de trabalho é competitivo, não há dúvida. Mas hoje, há jobsites e outras plataformas especializadas em ajudar o candidato a encontrar vagas com mais facilidade. Porém, em meio à busca, uma dúvida persiste: “Se eu não tenho 100% dos requisitos da vaga, devo aplicar mesmo assim?”. A resposta não é tão simples quanto parece e Hosana Azevedo, Head de Recursos Humanos do Infojobs, HR Tech que desenvolve soluções para RH, explica o porquê.
De cara, a especialista já revela: nem sempre é necessário atender a todos os requisitos, mas é fundamental entender quais qualificações são essenciais (ou seja, o trabalho não pode ser desempenhado sem as mesmas) e quais não são utilizadas no dia a dia. “Trazendo um exemplo bem comum: o inglês. Muitas pessoas não têm o nível de fluência exigido pelas companhias e isso pode se tornar um problema já durante a entrevista ou após a contratação, ao ter que lidar com um nativo. Neste caso, a seleção é inviabilizada, mesmo que a pessoa seja excelente em outras áreas”, explica.
No entanto, se no descritivo disser que o inglês é apenas “um diferencial”, a situação é diferente. Segundo Hosana, é possível aplicar e deixar claro durante a entrevista qual o nível de conhecimento que o profissional possui, e sua disponibilidade de desenvolver a habilidade. A especialista reforça que é essencial destacar experiências relevantes que compensem certas lacunas de qualificação. Projetos, cursos e experiências extracurriculares podem ser tão valiosas quanto habilidades técnicas específicas.
“O mais importante é não mentir. Existe uma prática chamada ‘fake it until you make it’, ou seja, fingir até saber fazer. Mas devo alertar que fingir qualificações ou experiências pode prejudicar a reputação e levar à demissão por justa causa”, enfatiza.
Então qual é a melhor forma de conseguir um emprego?
“Um estudo da Harvard Business Review revela que os empregadores, muitas vezes, não esperam que os candidatos atendam a todos os requisitos listados. Em média, esperam que atendam a 75% deles. Partindo deste princípio, darei algumas dicas para aplicar em vagas com mais inteligência”, disse Hosana.
Para ela, o primeiro ponto é ter um foco. Candidatar-se para vagas de diferentes perfis, com as mesmas informações no currículo, raramente resultará em algo. “É comum, em momentos de desespero do desemprego, o candidato aceitar diferentes posições por possuir habilidades úteis em duas ou mais áreas. Acontece muito com profissionais de comunicação – podem ser social media, assessores de imprensa e até redatores. Mas é preciso fazer as adaptações necessárias no currículo em cada candidatura, de acordo com as necessidades da vaga”.
Sendo assim, a recomendação é ter alguns tipos de currículos diferentes, cada um ressaltando uma habilidade específica – necessária para função que irá aplicar, mas sempre com informações verdadeiras. “Se estiver aplicando para social media, por exemplo, é importante destacar e descrever experiências anteriores que mostram o fit com a vaga. Se tiver cases ou cursos extras, eles vão ajudar o recrutador a entender suas experiências também”, recomenda.
Além disso, para além das habilidades técnicas, durante o recrutamento é avaliado um ponto muito importante: o quanto o candidato está alinhado culturalmente com a empresa. Sendo assim, é importante mostrar que conhece a missão e valores, além de mostrar flexibilidade e facilidade de integração ao que a companhia preza.
“Diante de todas as possibilidades, eu diria que cada caso deve ser avaliado individualmente. Aplicar para vagas sem atender a todos os requisitos pode ser uma estratégia válida, se o candidato puder compensar as lacunas com outras habilidades e demonstrar comprometimento em aprender, mas jamais deve mentir sobre o que não é”, finaliza Hosana.