Pensei muitas coisas para retratar e homenagear a minha cidade, que hoje completa 354 anos, mas a grande verdade é que nós, manauaras ou manauenses somos apaixonados pela “Paris dos Trópicos”.
Sim, Manaus era conhecida como “Paris dos Trópicos”. Construída em forma de tabuleiro e com sua arquitetura inspirada na Parisiense, porém com o calorzinho de um país tropical. E que calor!
Uma cidade com uma história riquíssima e, que outrora, formava a base da economia do Brasil impulsionando, praticamente, sozinha o PIB nacional, no auge da época áurea da Borracha, entre os anos de 1880 a 1910, e as marcas desta riqueza ficaram retratadas com o Teatro Amazonas, Palácio da Justiça, a Alfândega de Manaus, o primeiro prédio no Brasil ser construído, totalmente pré-moldado, a igreja de São Sebastião, faltando uma torre devido ao naufrágio do navio que trouxera, as pedras portuguesas moldando o encontro do Rio Negro com o Solimões na Praça de São Sebastião, hoje Largo, graças a um projeto audacioso do Governo do Estado da época.
Como nem tudo são flores, no momento em que a primeira capital do Brasil a ter energia elétrica sofreu com a biopirataria. Estrangeiros levarem nossas sementes de seringueira para a Malásia com o intuito de baratear a logística para o resto do mundo e amargamos até um novo ciclo recomeçar, graças a um deputado baixinho, nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas criado em Cruzeiro do Sul, no Acre vir para o Amazonas e virar deputado federal e fazer uma lei que criava uma tal de Zona Franca de Manaus, sim, estamos falando de Francisco Pereira ou Pereirinha, como os familiares e amigos o chamavam.
Às vezes, fico entristecida por ver tantos manauaras não conhecerem a história da nossa cidade, desconhecerem quem foi Francisco Pereira ou até mesmo se quer ter tido a oportunidade de entrar no Teatro Amazonas, mas nas minhas andanças nas áreas mais carentes e periféricas deparo-me com pessoas que se quer teve a oportunidade de conhecer o Centro Histórico de Manaus, muito pelo fato que hoje, nossa Manaus é uma metrópole, cravada no meio da Amazônia e em seus bairros há centros comerciais com tudo que é necessário: bancos, lojas, supermercados, shoppings, feiras, muito por este fato, poucos se aventuram em ir ao Centro da cidade.
Estamos falando de uma Manaós que fora deslumbrada na mente do visionário Eduardo Ribeiro, que a projetou para ter 10 mil habitantes, em uma época que a população chegava próximo de 1500 habitantes. É, Manaus cresceu, inchou hoje com 2.063.547 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a cidade floresce em meio a beleza e os desprazeres de crescer sem ordenamento urbano.
Ainda vivemos em uma época em que as invasões norteiam a cidade, principalmente, nas zonas Norte, Oeste e Leste. As vésperas do aniversário da “Capital da Amazônia”, passamos por uma dificuldade enorme com queimadas e a severa seca dos rios, a maior registrada nos últimos 126 anos. A fumaça adoeceu a cidade, adoeceu nossos olhos, mas alertou algo que pulsa forte, até quando?
Ainda sinto muitas saudades de tomar banho no igarapé da Ponte da Bolívia, pular daquela ponte (minha avó Edina foi direto pro Céu, pois ela só faltou infartar ao ver eu fazendo isso rsrs), suas águas geladas e pescar os peixes cardinais para o aquário do meu saudoso tio Edson, ou de poder curtir as cachoeiras do Tarumã: o Tarumãzinho, Cachoeira Alta, Cachoeira das Almas. É uma pena ver nossos igarapés, que antes nos servirá de balneários, servindo de esgoto a céu aberto. Gostaria muito de ver um projeto de recuperação destes, assim como o do Rio Sena em Paris, que utiliza, além de estações de tratamento, jardins suspensos com plantas aquáticas da nossa flora, afinal a cidade que tanto inspirou a minha, poderia inspirar mais uma vez, não é mesmo?
Porém, comemorar aniversário de uma cidade que não era para ser a capital, que outrora fora Barcelos, mas que se tornou por toda a riqueza, é sentir a sua beleza nas sutilezas que ela proporciona como os flamboyants levantando cedo todas as manhãs e embelezando o Boulevard Álvaro Maia ou ver os Ipês Brancos, como um véu de noiva alegrando o trânsito da av. Djalma Batista, que nessa época passa mais lento para contemplar a mudança da estação.
Manaus do Teatro Amazonas, do Polo Industrial de Manaus, o lúdico com o tecnológico, considerada o Vale do Silício Brasileiro, devido aos profissionais de tecnologia que são formados aqui. Uma explosão de culturas, a indígena, com a colonização dos portugueses, predominante no Centro, a qual tenho orgulho de carregar também no sangue, o negro com o Quilombo de São Benedito, na Praça 14 de Janeiro e ter abolido os escravos 04 anos antes da Lei Auréa ser decretada (em 1888) e os hermanos, venezuelanos que fugiram de sua amada terra devido a um regime comunista ditatorial para tentar dar dignidade as suas famílias.
Hoje, é mais fácil escutar o castelhano nas ruas da cidade do que o próprio português. Conversando com eles é comum o comentário “o amazonense é capaz de dar a sua cama para você dormir e dormir no chão”, sim, o nosso povo é hospitaleiro.
Manaus dos termos amazonês: Telezé, olha só, lotado até o tucupi, deixa de ser besta, para de pavulagem. Um povo de sorriso fácil, de vida sofrida, mas que na lida do dia a dia está transformando a nossa Manaus na Multicultural Manaus.
Parabéns, minha Manauxx!