Todos os dias, 26 meninas menores de 14 anos se tornam mães no Brasil, de acordo com um estudo da revista Ciência & Saúde Coletiva. Entre 2018 e 2023, 407 adolescentes de 10 a 19 anos morreram por complicações relacionadas à gravidez, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
“A gravidez na adolescência exige uma abordagem acolhedora e prática para reduzir esses riscos. O julgamento e a falta de suporte sobrecarregam essas jovens, que já enfrentam intensas mudanças emocionais e sociais”, explica Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline.
Pensando nisso, Rafaela lista 5 dicas para acolher e apoiar adolescentes grávidas:
1. Evite julgamentos
Frases como “você estragou sua vida” aumentam o isolamento da adolescente. Acolher sem críticas é essencial para que ela se sinta segura e tenha o suporte necessário para enfrentar a gestação.
2. Incentive o início do pré-natal
Muitas jovens escondem a gravidez por medo ou vergonha, o que pode atrasar o início do pré-natal e aumentar os riscos de complicações. Oferecer apoio emocional é essencial para que busquem atendimento médico o quanto antes.
3. Fique atento a sinais de depressão
Rejeição ao bebê, tristeza persistente ou falta de motivação podem ser sinais de depressão. Nem toda rejeição ao bebê está ligada a transtornos mentais, mas uma avaliação psicológica é fundamental para entender o contexto e oferecer suporte adequado.
4. Apoie a continuidade dos estudos
O abandono escolar é uma das consequências mais comuns da gravidez precoce, comprometendo o futuro da jovem e do bebê. Com apoio familiar e uma rede de apoio, é possível reorganizar a rotina para que ela conclua os estudos.
5. Oriente sobre os direitos disponíveis
Muitas adolescentes desconhecem que têm acesso a serviços como pré-natal gratuito pelo SUS e, em casos previstos em lei, ao aborto legal. Informar sobre esses direitos pode salvar vidas e oferecer mais segurança durante a gravidez.
Mais acolhimento, menos cobrança
Além das pressões emocionais e culturais, as adolescentes grávidas enfrentam barreiras sociais que tornam o período ainda mais desafiador. “A sociedade costuma responsabilizar apenas a jovem pela gravidez e ignora o papel do parceiro. Isso agrava a pressão e aumenta o risco de isolamento e abandono emocional”, alerta a psicóloga.
Para Rafaela, o acolhimento não deve ser apenas para a mãe, mas para toda a rede de apoio envolvida, incluindo os próprios adolescentes que desejam assumir a paternidade, mas enfrentam essas barreiras sociais e familiares.
“Acolher essas jovens com empatia e respeito é o primeiro passo para transformar o futuro delas e dos bebês. Com suporte adequado e um olhar empático sobre as barreiras culturais e sociais, é possível enfrentar os desafios da gestação precoce de forma mais segura”, conclui.