No começo da semana foi noticiada a morte por suicídio de um menino de 14 anos, aluno de um tradicional colégio de São Paulo. Juntamente com a notícia, foi compartilhado o áudio de despedida deste garoto.
A psicóloga especializada em Suicidologia, palestrante TEDx e fundadora do Instituto Vita Alere, Dra Karen Scavacini, explica os perigos que envolvem compartilhar as despedidas de pessoas que morreram por suicídio: “Compartilhar as despedidas – seja em formato de carta, aúdio ou da maneira que forem – é uma atitude bastante preocupante. O que poucos sabem – e precisamos educar a população sobre isso – é que a divulgação dessas despedidas pode funcionar como gatilho a pessoas mais vulneráveis, àquelas citadas no video, o que pode levar ao que chamamos de suicídios de contágio, ou seja, levar outras pessoas à morte por suicídio”.
Uma das principais formas seguras de falar sobre o suicídio é não informar como a pessoa morreu, ou seja, a maneira que escolheu terminar a sua vida. Esse é um detalhe que, para pessoas em sofrimento, pode ser um gatilho desencadeador de novos atos.
Muitas especulações têm surgido sobre as possíveis causas por trás dessa tragédia, e neste momento, os corações devem estar com a família do menino, que enfrenta uma dor inimaginável. É fundamental que quaisquer gatilhos, violências, preconceitos ou exclusões que possam ter ocorrido sejam devidamente investigados, mas é importante lembrar que o suicídio nunca resulta de uma causa única. Trata-se de uma questão complexa e multifatorial, que exige uma abordagem sensível e cuidadosa para que possamos entender e prevenir situações tão devastadoras como esta: “Embora parecer ser mais fácil apontar um único culpado em um caso de suicídio, é preciso entender que ele tem causa multifatorial, ou seja, são diversos fatores que levam uma pessoa a morrer por suicídio”, explica Dra Karen.
“Também não é recomendado fazer análises levianas, especialmente quando não se é especialista em saúde mental. Compartilhar a notícia como alerta, como uma forma de trazer para a luz um tema ainda tão tabu pode deve ser feito, mas com responsabilidade e empatia. Estamos falando de uma pessoa que estava em sofrimento profundo”, continua a especialista.
Quer ajudar? Fale sobre o tema com consciência, compartilhe materiais de instituições sérias e que dominam o assunto, jamais compartilhe fotos, áudios e cartas, acolha o sofrimento de quem está ao seu redor, aprenda a identificar os sinais de alguém em sofrimento. “Praticar a escuta ativa, falar mais do que ouvir, ser ativo na resolução de violências escolares e indicar ajuda profissional é a melhor maneira de ajudar alguém que está sofrendo. Além disso, é preciso ter responsabilidade e ética com a voz que cada um de nós tem e, em tempos de redes sociais, ressoa de forma ainda mais poderosa”, finaliza Dra Karen.