A crescente polarização no debate sobre segurança pública no Congresso Nacional é motivo de atenção, segundo André Santos Pereira, delegado de polícia e presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp). Conforme observa Pereira, existe um claro desequilíbrio entre a postura proativa da oposição, especialmente da extrema direita, e a atuação reativa dos parlamentares governistas.
“A oposição tem dominado a pauta da segurança pública, focando na superexposição de crimes violentos e ações policiais com uma estética militar que apela ao endurecimento no discurso contra a criminalidade”, afirma Pereira. Esse desequilíbrio é evidente na dificuldade do governo Lula em liderar discussões mais profundas, por exemplo, sobre a desmilitarização das polícias. “Essa ausência de iniciativa governista resulta no esvaziamento do debate”, completa.
Dados recentes indicam que a oposição conseguiu pautar com sucesso temas como a segurança nas fronteiras e o combate ao crime organizado, áreas nas quais o governo tem tido dificuldade de apresentar soluções concretas. “Enquanto a oposição avança com propostas firmes, o governo parece estagnado, muitas vezes caindo em abordagens simplistas ou, pior, na percepção de romantização do crime”, critica Pereira.
A polarização ideológica e o impasse político impedem um debate racional e produtivo sobre segurança pública. “Estamos vendo um cenário onde a falta de equilíbrio e de diálogo construtivo resulta em perda de oportunidade para implementar políticas eficazes que realmente beneficiem a população, como a integração e o exercício das competências de cada força policial em sua plenitude”, alerta o especialista. Ele defende a necessidade de uma abordagem mais transparente e equilibrada de ambos os espectros políticos.
Para Pereira, a solução passa por uma maior abertura ao diálogo e pela formulação de políticas públicas que vão além das ideologias. “É imperativo um debate racional sobre segurança pública, com discussões que incluam sociedade civil, forças de segurança e especialistas. Somente assim poderemos enfrentar de forma eficaz os desafios da criminalidade no país”, conclui.