BRASÍLIA – Com relatos convergentes sobre a atuação das ONGs na Amazônia para manter os indígenas isolados e em seu nome arrecadar milhões de grandes fundos estrangeiros, a CPI das ONGs do Senado ouviu hoje depoimentos dos líderes ianomâmi Alberto Brazão Góes, o cacique Adriel Kokama e Valdeci Baniwa, da comunidade Castelo Branco do Alto Rio Negro. O presidente da CPI, senador Plínio Valério (PSDB-AM) , avaliou como positiva a primeira sessão de depoimentos para colher subsídios para as futuras investigações da comissão sobre o dinheiro recebido pelas ONGs citadas, e onde esses recursos foram aplicados.
“Muito importante que os indígenas falem por eles, que opinem por eles. Simplesmente expuseram o que o Brasil precisa saber . Agora os brasileiros não podem dizer que desconhecem o outro lado , que só ouvem as ONGs hipócritas que vivem às custas das nossas necessidades”, agradeceu o presidente Plínio Valério.
Traçando um cenário de dificuldades para executar qualquer projeto de geração de renda nas suas terras em função da blindagem das ONGs que alegam impacto nas mudanças climáticas, os três indígenas foram unânimes em atestar que esses milhões arrecadados não chegam para melhorar as péssimas condições de vida nas comunidades.
“É indigno o que hoje nós somos submetidos, principalmente pelas ONGs, principalmente pelo ISA (Instituto Socioambiental) Nós, ianomâmis, não somos serviçais de outro ser humano. Nós não somos um mero ajudante de um ou outro ser humano. Nós não precisamos que ONGs de lá do estrangeiro digam como é que o ianomâmi vai cuidar da nossa terra, da nossa floresta, porque nós somos os verdadeiros antropólogos do nosso povo”, disse Alberto Góes.
Ele contou que sua etnia foi impedida por uma ONG de desenvolver um projeto de turismo em suas terras, e posteriormente essa mesma ONG tomou conta do projeto de ecoturismo ianomâmi e passou a vender pacote no exterior, via internet.
“Hoje a mesma ONG que eu já mencionei (ISA) tem um projeto gigante de cogumelo ianomâmi , vendido no exterior o grama custa 7 Euros. Por que a mídia está dizendo que parente ianomâmi está morrendo por inanição? Por quê, se existe um projeto que arrecada milhões? “, denunciou.
Durante a fala de Alberto Góes, a deputada indígena Silvia Waiãpi (PL-AP) acessou o site do ISA e fez a compra de apenas um cogumelo ianomâmi por R$65.00.
“Agora, sempre ficará a pergunta: quem lucra com isso? Quanto mais miseráveis, isolados e subjugados estiverem os povos indígenas brasileiros, mais investimento, Organizações Não Governamentais continuarão ganhando. Para quê? Para que digam que defendem esses povos”, relatou a deputada Waiãpi.
O indígena Valdeci Baniwa, que estuda geologia em São Paulo e tenta vencer os obstáculos impostos por ONGs com apoio do Ministério Público do Amazonas para criar uma cooperativa de exploração mineral e criação de galinha caipira, diz que é injusta a desigualdade social de seu povo enquanto os donos dessas organizações vivem de forma nababesca com o dinheiro arrecadado para proibir qualquer forma de desenvolvimento na floresta.
“Usam esses recursos para nos manter no isolamento. Minha gente vai para a roça com fome, vamos com fome buscar um peixe para matar a fome”,v lamentou Valdeci Baniwa.
O último a ser ouvido foi o cacique Adriel Kokama.
“A CPI das ONGs nos representa. Tem que manter o foco nos milhões que arrecadam lá fora e nada fazem pelos índios. Nós não somos coitadinhos, queremos que nos deixem trabalhar para ajudar no progresso do Brasil. Só no meu pequeno município tem 500 ONGs cadastradas. Que a CPI possa trazer soluções”, defendeu o cacique Kokama.