Marcelinho Carioca foi sequestrado e ficou mais de um dia em cativeiro na região metropolitana de São Paulo até ser liberado ontem. O UOL separou tudo o que foi dito pelo ex-jogador e pela polícia sobre o caso.
Sequestro na casa da amiga
Marcelinho foi abordado por três criminosos na madrugada do último domingo em Itaquaquecetuba. Ele estava dirigindo um carro da Mercedes-Benz e atraiu a atenção do grupo que estava próximo do local.
O ex-jogador disse ter dirigido até a cidade após ter ido ao show de Thiaguinho, na Neo Química Arena, no sábado. Ele afirma ter ido repassar ingressos a uma ex-colega de trabalho de quando era secretário de esportes de Itaquaquecetuba, já que não conseguiria ir à segunda apresentação do cantor no estádio do Corinthians, no domingo.
Marcelinho diz que recebeu uma coronhada, ficou desacordado e foi levado com a amiga pelos sequestradores. O cativeiro ficava a poucos quilômetros de onde foram sequestrados, e o veículo do ex-jogador foi deixado em outro local.
“Eu estava chegando para conversar na frente da casa dela quando chegaram três indivíduos e me abordaram. Tomei coronhada na cabeça e depois não vi mais nada. Quando entrei no carro, colocaram o capuz e não vi mais nada. Tudo isso foi no meu carro”.
Marcelinho, em entrevista coletiva
Golpe de R$ 42 mil
Marcelinho deu a senha do celular, e os criminosos começaram a agir. O ex-meia disse que foi ameaçado para colaborar. “Eu vi tanta coisa… Eles queriam dinheiro e me levaram. Eu não estava preocupado com dinheiro, mas com minha vida e a vida dela. Encapuzado, você não vê nada, só escuta. Deram água e comida”.
Os sequestradores pediram mais de R$ 40 mil ao advogado do ídolo corintiano, que transferiu o valor. A quantia foi feita em dois pagamentos via pix, um de R$ 30 mil na noite de domingo, e outro de R$ 12 mil na manhã de ontem.
Nesse meio tempo, a Polícia Militar encontrou o carro abandonado de Marcelinho e começou a investigar. PMs avistaram um “veículo não compatível com a região” e contataram o advogado do ex-jogador na manhã de ontem, que contou que Pé de Anjo não era visto desde o show de sábado – e que tinha ficado desconfiado por ter sido chamado de “irmão”, e não de “doutor”, no pedido de dinheiro enviado pelo WhatsApp.
Os sequestradores, então, ligaram para o representante do ex-jogador e pediram R$ 200 mil para soltá-lo. Já com auxílio das autoridades, o montante não foi repassado, e as buscas se intensificaram.
Depois disso, um vídeo de Marcelinho “confessando” que tinha sido sequestrado pelo marido da amiga foi divulgado. Na filmagem, o ex-jogador aparece com o olho esquerdo roxo, e a versão que conta é confirmada pela mulher.
“Eu estava em um show em Itaquera, curtindo um samba e saí com uma mulher que é casada. Depois, o marido dela pegou, me sequestrou e me levou. Esse foi o B.O.”.
Marcelinho, em vídeo gravado pelos sequestradores
Resgate no cativeiro
A polícia encontrou o cativeiro, e Marcelinho foi localizado. A ação policial partiu de uma denúncia anônima, que descobriu o endereço e forçou os sequestradores a liberarem o ex-jogador.
Cinco pessoas foram presas em flagrante, sendo três mulheres e dois homens. Além deles, um menor foi apreendido e depois liberado, assim como um outro averiguado.
Marcelinho foi encaminhado para o Palácio da Polícia Civil de São Paulo, no centro histórico da cidade. Ele chegou à unidade em um carro à paisana, por volta das 16h (de Brasília), driblando o grande contingente de profissionais da imprensa que aguardavam o seu desembarque, e prestou depoimento.
O ex-meia se emocionou na entrevista coletiva que concedeu no final da tarde. Ele afirmou que foi obrigado com uma arma na cabeça a gravar o vídeo no cativeiro e desmentiu a versão, afirmando que não se envolveu com a amiga.
“Se você tem uma arma apontada na cabeça e a pessoa obriga você a falar, o que você faz? Fui obrigado a falar. A Taís é brilhante, guerreira, de fibra, família, trabalhadora que não tenho nada a ver”.
Marcelinho
Roleta-russa e sequestro ocasional
Os criminosos fizeram roleta-russa na cabeça de Marcelinho, segundo Paulo Pilz, diretor do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) da Polícia Civil. Foram encontradas duas armas no cativeiro.
O delegado Fabio Nelson, da divisão antissequestro, vê o crime como sequestro ocasional. Isso significa que os bandidos não visavam Marcelinho e praticaram o crime diante do carro de luxo que ele dirigia em Itaquaquecetuba.
“Viram um carro daquele porte próximo da comunidade e chegaram para abordar. Depois, viram o trabalho brilhante do DAS, Polícias Civil e PM — porque eu vi, era minha vida em jogo. O helicóptero chegou forte e descobriram tudo. Escutei assim: ‘A casa caiu, a casa caiu, temos que liberar ele, pega um menor para dirigir e joga ele em outro lugar”.
Marcelinho
Por André Martins/UOL – São Paulo