Os Estados Unidos, aliado de Israel, vetaram nesta quarta-feira (18/10) um texto proposto pelo Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Doze países votaram a favor da proposta brasileira, entre eles China, França e Emirados Árabes Unidos. Dois países, Rússia e Reino Unido, se abstiveram na votação.
O Brasil propôs uma pausa humanitária no conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O conflito já matou mais de 5 mil pessoas – cerca de 4 mil palestinos e 1,3 mil israelenses durante o ataque do grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro.
Para qualquer proposta ser aprovada no Conselho de Segurança da ONU, ela precisa de pelo menos nove votos dos 15 países membros do órgão.
Também não pode ter nenhum veto. Apenas cinco países têm esse direito de vetar um texto: Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França.
Por causa desse dispositivo, o veto americano fez com que a proposta do Brasil fosse rejeitada.
A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que a proposta foi vetada por não citar o direito de Israel de se defender.
Os EUA costumam defender os interesses israelenses no Conselho de Segurança da ONU.
O embaixador do Brasil, Sérgio Danese lamentou o resultado. “Tristemente, muito tristemente, o conselho mais uma vez não conseguiu adotar uma resolução. Silêncio e inação prevaleceram, para o interesse de longo prazo de ninguém”, afirmou..
Segundo Danese, o Brasil fez um “esforço para acomodar as posições diferentes, às vezes opostas”, com o intuito de buscar uma solução para a crise humanitária na Faixa de Gaza.
A rejeição da proposta brasileira frustra a tentativa do governo Lula de influenciar nos rumos do conflito. Em 11 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu no X (antigo Twitter) “uma intervenção humanitária internacional” no conflito.
“O Brasil, na presidência provisória do Conselho de Segurança da ONU, se juntará aos esforços para que cesse de imediato e em definitivo o conflito”, afirmou.
Para Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o resultado da votação representou “uma vitória” para a diplomacia brasileira Brasil, apesar do veto. Ela destaca o amplo apoio, inclusive de dois membros permanentes (França e China), e ressalta o fato de os EUA terem ficado isolados no veto.
Ela, porém, se mostra pessimista sobre novos progressos quanto ao conflito entre Israel e Palestina dentro do Conselho de Segurança.
“Os Estados Unidos têm vetado repetidamente resoluções que envolvam questões de Israel, questões do Oriente Médio. Qualquer resolução que não permita a Israel uma margem de manobra plena vai ser vetada pelos Estados Unidos. Então esse veto norte-americano era bastante esperado”, ressalta.
“O resultado da votação demonstra que, geopoliticamente, existe hoje uma pressão dos países sobre a situação de Israel e que, de certa forma, esse eixo bilateral Estados Unidos-Israel está num ritmo e o resto do mundo está em outro”, acrescentou.
Na avaliação do professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, o Brasil fez “um papel muito honroso” como presidente do Conselho de Segurança da OBU e conseguiu “um resultado muito bom”.
“Com exceção dos Estados Unidos, o Brasil conseguiu convencer os outros treze países. O Brasil conseguiu convencer a Rússia a não vetar, conseguiu convencer o Reino Unido a não vetar e conseguiu onze votos afirmativos dos demais países de Europa, de África, de América Latina e de Oriente Médio”, ressaltou.
“Agora, o que fica claro é que o jogo já estava jogado antes. Como disse o representante da China, o Estados Unidos ficaram em silêncio por 24 horas. Não quiseram negociar”, disse ainda.
Para Belém, o governo americano quer restringir os atores envolvidos na gestão do conflito, limitando às negociações a EUA, Arábia Saudita e ao secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Os Estados Unidos têm essa estratégia, vão levar até o final, de proteger Israel e de transformar a gestão desse conflito em algo que passe pelo filtro dos Estados Unidos necessariamente”, reforça.
Analistas internacionais ouvidos pela reportagem se dividem entre “uma tensão” ou mesmo “dois pesos e duas medidas” na posição americana em relação a Israel e à Ucrânia.
“É uma questão complicada. Os EUA afirmaram que os assentamentos israelenses são um obstáculo à paz. Não com frequência, mas ao menos em algumas ocasiões, os americanos permitiram a aprovação de resoluções do Conselho de Segurança da ONU em condenação aos assentamentos como violações do direito internacional, ou seja, não exerceram seu poder de veto”, disse Allen Weiner, professor de direito internacional da Universidade Stanford.
*Com informações da BBC News