Imagine que estamos no início do século XX, quando os primeiros automóveis começavam a circular pelas ruas. Era uma revolução, mas com um grande desafio: onde e como abastecer esses veículos? Postos de combustível sequer existiam e quem se aventurava com um carro precisava planejar muito bem a rota para não ficar pelo caminho.
Agora, avance no tempo e traga essa mesma lógica para os dias de hoje, mas com os carros elétricos. O Brasil vive um crescimento expressivo na adoção desses veículos, sendo o maior mercado de eletrificados da América Latina. Em 2024 as importações da categoria somaram US$ 1,6 bilhão – um aumento de 107,7% em relação ao ano anterior, quando, em termos de vendas, foram mais de 170 mil emplacamentos, de acordo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Apesar do avanço exponencial, assim como nos carros a combustão, os consumidores de eletrificados ainda enfrentam desafios, caso queiram percorrer longas distancias.
Isso porque, dentre as dificuldades vivenciadas pelo consumidor está a baixa infraestrutura para carregamento e a portabilidade dos carregadores.
Sobre a infraestrutura, atualmente o país conta com pouco mais de 12 mil eletropostos, segundo dados da empresa de tecnologia para mobilidade elétrica Tupi, para a marca de pelo menos 400 mil veículos elétricos rodando em território nacional. A conta simplesmente não fecha.
Outro fator que demonstra a importância de avanços em infraestrutura é que enquanto um veículo a combustão leva perto de três minutos para ser abastecido, um elétrico precisa de aproximadamente 30 minutos, considerando um carregador rápido. De acordo com GEVA Global EV Driver Survey 2024, apenas 10% das recargas no Brasil são feitas em carregadores rápidos públicos, enquanto a média mundial é de 13%. Além disso, a distribuição geográfica de boa parte dos eletropostos também é um desafio, já que estão concentrados, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste.
Diante desse cenário, o consumidor passa a ter que investir em uma estrutura própria de recarga, o que nos leva a um assunto que pode ser o ponto de inovação do Brasil neste nicho: a portabilidade dos carregadores.
Atualmente, a maioria dos carregadores portáteis disponíveis para compra possui limitações em relação à compatibilidade com diferentes modelos de veículos elétricos e tipos de tomadas. Isso significa que, mesmo que o consumidor decida investir em um carregador próprio, ele pode enfrentar dificuldades para utilizá-lo em diferentes locais, como hotéis, estacionamentos ou até mesmo em residências de amigos e familiares.
A falta de padronização e a ausência de incentivos para o desenvolvimento de soluções portáteis eficientes tornam essa questão ainda mais desafiadora. Em mercados como a Europa e os Estados Unidos, há um incentivo crescente para a adoção de carregadores universais e soluções que facilitem a mobilidade dos proprietários de veículos elétricos. No Brasil, essa discussão ainda está em estágio inicial, mas já sabemos onde precisamos melhorar.
Deste modo, empresas que não investirem em infraestrutura de carregamento portátil deixarão de atender a uma demanda crescente e, consequentemente, perder mercado, já que cada vez mais clientes estão buscando produtos que, de fato, atendam suas necessidades. Por isso, aliar inovação e tecnologia para desenvolver soluções, como carregadores portáteis e que atendam a todos os tipos de veículos do setor, pode ser um diferencial competitivo essencial nos próximos anos.
Ao pensarmos em mobilidade elétrica, precisamos, de fato, considerar soluções que tornem o carregamento mais prático, acessível e eficiente. Se no passado os postos de combustível expandiram de modo a acompanhar a necessidade do consumidor, hoje a portabilidade dos carregadores é o que determinará o ritmo da revolução dos veículos elétricos.
*por Sergio Amaral