Daqui a 65 dias começa em Dubai, nos Emirados Árabes Árabes Unidos, a 28ª edição da Conferência Climática das Nações Unidas (COP28), onde governos do mundo inteiro tentarão chegar a um acordo sobre o futuro dos combustíveis fósseis – e do clima do planeta.
O encontro deste ano avaliará o progresso dos signatários do Acordo de Paris, de 2015, em relação às suas metas voluntárias, enquanto organizações ambientais pressionam por mais esforços.
Entre os caminhos-chave para alcançar emissões líquidas zero até 2050 e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100 está triplicar a capacidade das energias renováveis para 11 terawatts (TW) até 2030.
Junto com as metas para renováveis estão as de dobrar a eficiência energética e a produção de hidrogênio para 180 milhões de toneladas/ano até 2030.
É um caminho, nem todo mundo está de acordo, mas dá para chegar lá, acredita a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), que divulgou hoje (26/9) a atualização do seu roteiro para emissões líquidas zero até 2050.
“Manter vivo o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C exige que o mundo se reúna rapidamente. A boa notícia é que sabemos o que precisamos fazer – e como fazê-lo”, disse o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.
“Mas também temos uma mensagem muito clara: uma cooperação internacional forte é crucial para o sucesso. Os governos precisam de separar o clima da geopolítica, dada a escala do desafio que enfrentam”, completou.
Originalmente publicado em 2021, o documento trouxe mais de 400 marcos para orientar os países rumo à descarbonização da economia – entre eles, interromper o desenvolvimento de novas reservas de óleo e gás.
A atualização deste ano incorpora as mudanças no panorama energético nos últimos dois anos, incluindo a recuperação econômica pós-pandemia e o “crescimento extraordinário” em algumas tecnologias de energia limpa – mas também o aumento do investimento em combustíveis fósseis e emissões elevadas.
Suavizando um pouco o tom para os fósseis, diz que não é necessário “nenhum novo projeto upstream de petróleo e gás de longo prazo”, ao mesmo tempo em que vê a eletrificação emergindo como “novo petróleo” do sistema energético global.
No cenário atualizado de emissões líquidas zero (.pdf em inglês), o aumento da capacidade de energia renovável, impulsionado por políticas, reduz a procura de combustíveis fósseis em 25% até 2030, reduzindo as emissões em 35% em comparação com o máximo histórico registrado em 2022.
Em 2050, a demanda fóssil cai 80%. Como resultado, não são necessários novos projetos de petróleo e gás upstream de longo prazo, nem novas minas e centrais de carvão.
Ainda assim, indica que será necessário um investimento contínuo em alguns ativos de petróleo e gás existentes e em projetos já aprovados, para evitar picos de preços ou excessos de oferta.
IEA está, até certo ponto, otimista. Segundo o relatório, limitar o aquecimento global a 1,5°C continua possível devido ao crescimento recorde das adições de energia solar e vendas de veículos elétricos, mas o impulso precisa aumentar rapidamente em várias áreas.
Por exemplo, garantir pleno acesso a formas modernas de energia para todos até 2030, com um investimento anual de quase US$ 45 bilhões por ano – pouco mais de 1% do investimento no setor energético.
De forma geral, quase todos os países deverão avançar com as datas previstas para zero emissões líquidas.
E os gastos globais com energia limpa precisam aumentar de US$ 1,8 bilhão em 2023 para US$ 4,5 bilhões anuais no início da década de 2030.
Além das metas de triplicar as renováveis e dobrar a taxa de eficiência, o roteiro aponta que as vendas de veículos elétricos e bombas de calor precisam aumentar acentuadamente e as emissões de metano do setor energético caem 75%. Estratégias que poderiam levar a mais de 80% das reduções necessárias até ao final da década.
Planos frustrados no hidrogênio
Na semana passada, a IEA publicou uma análise sobre as políticas de apoio ao hidrogênio de baixo carbono em todo mundo, concluindo que a implementação de incentivos financeiros está lenta.
Ao todo, a agência identificou 40 países com estratégias nacionais para o hidrogênio. No entanto, a capacidade instalada e os volumes permanecem baixos – o gás de baixo carbono ainda representa menos de 1% da produção e utilização global.
Isso porque os investidores estão aguardando a definição de incentivos.
“Num contexto de crise energética global, inflação elevada e perturbações na cadeia de abastecimento, os novos projetos enfrentam custos crescentes, pelo menos temporariamente, que ameaçam a rentabilidade a longo prazo”, explica o relatório publicado na última sexta (22/9).
De acordo com o estudo, a inflação e os custos de financiamento mais elevados estão afetando toda a cadeia de valor do hidrogênio, o que significa aumento de custos de financiamento para os investidores e redução do impacto dos subsídios.
“Esta confluência de fatores é particularmente prejudicial para uma indústria que enfrenta elevados custos iniciais relacionados com construção, fabricação e instalação de equipamentos”.
No final de 2022, a capacidade do eletrolisador para produção de hidrogênio atingiu quase 700 MW.
Com base em projetos que alcançaram a decisão final de investimento ou estão em construção, a IEA estima que a capacidade total poderá mais do que triplicar, para 2 GW, até ao final de 2023, sendo a China responsável por metade deste valor.
Se todos os projetos anunciados forem concretizados, um total de 420 GW poderá ser alcançado até 2030, um aumento de 75% em comparação com a avaliação de 2022 da IEA.
Por Nayara Machado/epbr