O governo do Chile declarou estado de emergência enquanto o país luta contra a propagação de incêndios florestais que mataram, até o momento, ao menos 99 pessoas e deixaram centenas de desaparecidos.
“Dadas as condições da tragédia, o número de vítimas certamente aumentará nas próximas horas”, disse o presidente Gabriel Boric.
Boric, que viajou para a região de Valparaíso, decretou “estado de emergência por catástrofe para ter todos os recursos necessários” para combater os incêndios.
Em nota, o governo brasileiro expressou “profundo pesar pelo expressivo número de mortos e feridos e pelas perdas materiais em decorrência dos incêndios florestais que atingem a região de Valparaíso, no Chile”.
O Itamaraty afirmou ainda que o governo brasileiro monitora a situação por meio do consulado em Santiago, que está preparado para prestar assistência aos brasileiros eventualmente afetados pelos impactos dos incêndios.
Os serviços de emergência chilenos ainda não conseguiram fazer um levantamento completo das vítimas ou uma contagem precisa das casas e infraestruturas danificadas, mas em algumas áreas, como Viña del Mar, o número de desaparecidos já subiu para 370.
A ministra do Interior, Carolina Tohá, disse que “depois do terremoto de 2010, os incêndios florestais em Valparaíso serão a situação de emergência que mais deixou vítimas no Chile nos últimos tempos”.
O presidente chileno prometeu ainda que será investigada eventual causa intencional dos incêndios “até às últimas consequências” e disse que o Exército e os policiais reforçaram a vigilância nas zonas onde há focos ativos de incêndio.
As áreas mais afetadas são as de Valparaíso, O’Higgins e Araucanía, na região central do Chile.
Com caminhões e helicópteros, bombeiros lutam para conter as chamas em diversas áreas de Valparaíso, onde vivem quase um milhão de habitantes.
Vídeo divulgado nas redes sociais pelos Bombeiros do Chile mostram a tentativa de combater o fogo em Valparaíso:
Os esforços dos serviços de emergência não conseguiram controlar a situação até a manhã domingo (4/2).
Boric destacou que “o fogo avança muito rapidamente” e as condições meteorológicas dos últimos dias tornaram o combate aos incêndios muito mais complicado. Nas zonas afetadas, foram registradas temperaturas elevadas e ventos fortes, que se somam a uma baixa umidade.
Até a metade do dia de sábado (3/2), existiam 92 focos de incêndios ativos em todo o país, dos quais 29 em combate e 40 controlados.
Entre a noite de sexta e a manhã de sábado, o número de hectares queimados passou de 30 mil para 43 mil.
‘Temos que deixar casas queimarem’
“Neste momento, temos um caos”, disse Patricio Brito, comandante dos bombeiros da cidade de Viña del Mar, segundo declarações citadas pelo jornal El País.
Todo o centro da cidade de mais de 325 mil habitantes pegou fogo.
“Não há nada que possamos fazer em relação às casas. Temos que deixá-las queimar, não temos outra opção a não ser deixar o fogo apagar”, disse um porta-voz local dos serviços de emergência.
A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, disse que 370 pessoas estão desaparecidas.
O governo chileno decretou toque de recolher no sábado nas comunas de Limache, Quilpué, Villa Alemana e Viña del Mar, com o objetivo de manter as estradas desobstruídas e facilitar a circulação das equipes de emergência.
Segundo o Ministério do Interior, os incêndios que mais preocupam pelo seu rápido avanço e intensidade são os que afetam o Complexo Las Tablas, em Viña del Mar, que consumiu 6.800 hectares.
O fenômeno dos incêndios não é novo no Chile.
Impulsionadas por uma onda de calor recorde, em 2023 as chamas deixaram 27 mortos e afetaram mais de 400 mil hectares.
“A área com incêndios hoje é muito menor do que no ano passado”, disse Tohá.
Ela alertou, no entanto, que a maior preocupação desta vez é que alguns dos incêndios ativos estavam se desenvolvendo muito perto de zonas urbanas, “com o risco potencial muito elevado de afetar pessoas, casas e instalações”.
Por BBC News Brasil
Foto: Javier Torres