A primeira Cúpula do Clima da África terminou nesta quarta (6/9) com um apelo aos países responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa para que apoiem um imposto global sobre combustíveis fósseis, transporte marítimo e aviação.
O pedido integra a Declaração de Nairóbi, que recebeu o nome da cidade do Quênia onde os líderes africanos se reuniram com chefes de Estado e ministros do clima do resto do mundo para debater a transição justa africana no início da semana.
O continente é rico em minerais críticos à transição energética e está na mira de economias industrializadas que precisam desses insumos para sua indústria de renováveis e veículos elétricos.
Mas os países africanos têm suas próprias urgências.
Com 43% do continente (600 milhões de pessoas) ainda sem acesso à energia, serão necessários investimentos de US$ 25 bilhões por ano para expandir o fornecimento de eletricidade – e descarbonizada.
De onde virão os recursos é uma questão crucial.
Na Declaração de Nairobi, os líderes do continente de 1,3 mil milhões de pessoas cobram os US$ 100 bilhões prometidos por países ricos e pedem reformas financeiras para ajudar a transição energética, argumentando que, para dobrar o investimento em energia requer medidas urgentes capazes de reduzir os custos de financiamento e aumentar o acesso ao capital.
Transição justa pede financiamento
O documento deve basear a posição das nações africanas nas negociações climáticas da COP28, no final do ano, nos Emirados Árabes.
O país sede da conferência climática da ONU, aliás, anunciou US$ 4,5 bilhões para energias renováveis na África. Ao todo, as promessas feitas esta semana por governos, setor privado e bancos multilaterais somam US$ 23 bilhões.
Mas a declaração alerta que desbloquear o crescimento verde em todo o continente “numa escala que possa contribuir significativamente para a descarbonização da economia global” exige um aumento maciço do financiamento.
“Exigimos condições justas para que os nossos países tenham acesso ao investimento necessário para desbloquear o potencial e traduzi-lo em oportunidades”, disse o presidente queniano William Ruto.
Em suas redes sociais, Ruto celebrou o comunicado como um marco dos esforços coletivos dos países africanos, com “um apelo urgente à comunidade internacional para que dê prioridade às necessidades econômicas e ecológicas da humanidade”.
300 GW de energia limpa até 2030
Essa é a meta expressa pelos africanos no encerramento da cúpula de Nairóbi, e demandará US$ 600 bilhões em investimentos nos próximos sete anos para ser cumprida. Em 2022, o continente alcançou 56 GW em instalações renováveis.
Publicado também nesta quarta, relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra que, embora a África represente quase 20% da população mundial e tenha amplos recursos (como os minerais da transição), é o destino de apenas cerca de 2% dos gastos globais com energia limpa.
De acordo com o documento (.pdf em inglês) o custo de capital para projetos de energia limpa no continente é pelo menos duas a três vezes superior ao dos países ricos.
“Isto impede os investidores de avançarem com projetos comercialmente viáveis que possam fornecer soluções energéticas acessíveis”, observa a IEA.
A pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia pioraram o custo de capital. Mas historicamente o continente é negligenciado.
A crise climática começa a mudar o olhar internacional. Segundo a IEA, para que o mundo cumpra o Acordo de Paris e mantenha o aumento da temperatura abaixo de 1,5ºC, o investimento em energia no continente precisa mais do que dobrar até 2030, com quase dois terços destinados às renováveis.
Junto com o Banco de Desenvolvimento Africano (AfDB), a agência conclui que é preciso disponibilizar mais financiamento nas fases iniciais dos projetos e reduzir riscos de investimentos para atrair capital.
“Isto exigirá um forte envolvimento dos setores público e privado, bem como o apoio de instituições estrangeiras e nacionais”, completa.
Por Nayara Machado/epbr