O Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), que ocorre anualmente em janeiro em Davos, na Suíça, começou nesta segunda (15/1) com mais um dado alarmante sobre o clima: há uma lacuna de mais de 600 bilhões de toneladas de CO2 entre ambições e políticas de redução de emissões nacionais.
Em meio a um mundo fragmentado por guerras e tomado pela inflação, economistas também discutirão nos próximos dias como manter viva a meta de 1,5°C.
É o primeiro grande encontro de líderes após a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), que encerrou em dezembro passado com os países concordando em fazer uma transição para longe dos combustíveis fósseis.
E se já foi difícil conseguir colocar no papel a ambição de substituir os principais causadores das mudanças climáticas – os combustíveis fósseis –, transformar isso em ação concreta promete ser uma jornada e tanto.
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Às vésperas do encontro em Davos, o WEF publicou um relatório destacando a necessidade de ações sistêmicas, em vez de incrementais, por parte de empresas e governos para atingir as metas de descarbonização.
“Embora a ação climática individual tenha aumentado, coletivamente não é suficiente para alcançar o nível de mudança sistêmica necessário”, diz o documento (.pdf) elaborado pela Aliança de Líderes Empresariais para o Clima.
Ao analisar dados do CDP para as 1.000 maiores empresas globais, o relatório indica que mais de 10% das emissões globais provavelmente estão nas cadeias de suprimentos. Chamadas de emissões de Escopo 3, elas são consideradas as mais difíceis de gerenciar, justamente porque não dependem de ações individuais e estão dispersas.
Escopo 3 é uma das grandes preocupações das mais de 120 corporações que compõem a aliança, um grupo que representa mais de US$ 4 trilhões em receitas e 12 milhões de funcionários.
No relatório, a aliança aponta que é preciso acelerar a descarbonização de fornecedores, destacando que 10 players ou menos controlam mais de 40% de muitos mercados-chave.
Entre as ações de impacto imediatas está a formação de parcerias interindustriais, especialmente entre grupos que fazem compras em grande escala. Eles calculam que a mobilização de menos de 10% dos gastos de capital (Capex) e compras das 1.000 maiores empresas poderia fechar a lacuna no financiamento climático.
Além disso, acreditam ser possível permitir que os clientes façam escolhas mais verdes. “A redução dos primeiros 50% das emissões de muitos produtos pode ser alcançada com um impacto final de menos de 1% no preço”, diz o estudo.
Quanto à ação governamental, o relatório destaca cinco prioridades: antecipar as metas de neutralidade de carbono para 2050 ou mais cedo, reconhecer e precificar o carbono, aumentar o financiamento e incentivos, remover obstáculos e, se o progresso for lento, considerar medidas mais drásticas.
Silveira e Marina em Davos
Os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Marina Silva (Meio Ambiente) representarão o Brasil no fórum deste ano. O presidente Lula (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não embarcaram.
Marina chegará à Suíça com dados positivos sobre o desmatamento: as áreas sob alerta na Amazônia caíram 49,9% em 2023 na comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter-B, do Inpe, divulgados na sexta-feira (12).
O governo atribui os números à retomada da política ambiental e climática e das ações de fiscalização após os quatro anos de degradação no bioma. De acordo com o MMA, a redução anual é a maior da série histórica do Deter.
Já Silveira afirma que irá cobrar dos países ricos ações para a transição energética, além de buscar investimentos para o Brasil.
Com uma extensa agenda entre terça e sexta, o ministro participará de discussões sobre minerais críticos, hidrogênio e investimentos para energia limpa em países emergentes. Também está prevista uma reunião da Aliança Global de Biocombustíveis.
“É preciso que os países desenvolvidos também façam a sua parte, que participem efetivamente da transição energética financiando ações de combate ao aquecimento global. Esta conta não pode cair apenas no colo dos países do Sul Global”, disse Silveira nesta segunda.
Por Nayara Machado