Uma empresa familiar tem certas peculiaridades que as difere de outros tipos de empresas, especialmente porque o trabalho em família implica saber lidar com eventuais desafios relacionados à sucessão e à interferência em questões de gestão. Olhar para esses pontos é necessário, especialmente quando a empresa está em crescimento.
Segundo Jhonny Martins, vice-presidente do SERAC, hub de soluções corporativas, sendo referência nas áreas contábil, jurídica e de tecnologia, um desafios comum relacionado a uma empresa familiar é planejar a sucessão de forma inteligente, com decisões prévias sobre como se transmitirá a gestão da empresa. “O grande ponto é que uma empresa familiar não é escolhida, é imposta. Por isso, você precisa encarar essa questão com um processo que tem que ser muito bem pensado”, afirma.
O executivo reforça a diferença entre formar herdeiros ou sucessores neste processo. “Herdeiro você mima. Sucessor você treina. Se você tem um sucessor e quer prosperar, quer que ele tenha gosto pela empresa, você precisa treinar, mostrar um caminho a ele. Não é só botar para fazer um trabalho operacional ou que não motive”, orienta.
Ele conta que, no caso do SERAC, costumava frequentar a empresa desde pequeno, sendo estimulado pelo pai a entender o valor do trabalho. “Ia trabalhar depois da escola e acompanhei toda a construção da empresa. Percebi que meu pai sempre foi um líder que liderava pelo exemplo. Ele me levava desde os seis anos para separar documentos, canetinhas por cor, fazer pequenas tarefas para começar a entender o que era trabalho. No fim do dia me dava R$ 5 reais pra que eu entendesse que através do trabalho eu conseguiria usufruir de alguns benefícios, comprar o que eu queria”, analisa.
Jhonny Martins acredita que, no caso das empresas familiares, boa parte dos pais protegem demais os filhos, acham que o filho não deve fazer nada porque já vai herdar ou, ainda, não ouvem novas sugestões. “Meu pai sempre fez diferente e nos motivou, ouviu e nos deixou inovar. Quando tinha uma preocupação, um risco, ele dizia que achava que não daria certo, mas nos deixava tentar”, conta.
Para o vice-presidente do SERAC, para uma empresa familiar ter sucessores e não herdeiros, é preciso haver motivação além da questão financeira. “O que motiva muitas vezes não é dinheiro, é o propósito de estar ali ajudando a construir a empresa. Os sucessores precisam entender que existe possibilidade de progresso, de evolução naquele negócio, por isso precisam ser estimulados com essa visão”, avalia.
Entre os desafios enfrentados por quem é sucessor na gestão, há a necessidade de ter que se provar bom o tempo todo. “Essa é uma característica da empresa familiar, porque o filho ocupa um cargo que às vezes merece, às vezes não merece. Mas esse sentimento passa quando o sucessor consegue demonstrar resultados e se impor, mostrando que não está ali apenas por ser herdeiro, mas porque mereceu”, diz.
Finalmente, Jhonny aconselha que uma sucessão bem sucedida de uma empresa familiar depende de boas conexões na própria família. “Você não manterá viva a empresa familiar se não houver um alinhamento da família e se a família não conseguir refletir esse alinhamento dentro da empresa. Por isso, é bom haver um acordo que ajude todos a entenderem a importância dessa conexão e alinhamento”, finaliza.