Diante de uma recessão técnica na Alemanha após, em maio, o país registrar retração do PIB (Produto Interno Bruto) pelo segundo trimestre seguido, o cenário econômico alemão pode ser de oportunidade para o Brasil. A avaliação é do diretor-geral da OKE Automotive e conselheiro da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha do Paraná (AHK-PR), Emerson Nogueira.
Para ele, os resultados são reflexo de uma desindustrialização do país, resultante da grande burocracia existente na Alemanha, além da dificuldade em encontrar mão de obra e, mais recentemente, uma política de diminuição do carbono na indústria. A medida, apesar de relevante e sustentável, levou ao fim do uso da energia nuclear e, agora, de termoelétrica, que são substituídas por energias mais caras.
Aliado a isso, há também consequências da Guerra na Ucrânia. A Rússia era parceira comercial estratégica para a Alemanha e, com a invasão, negócios foram desfeitos, como a compra de gás russo mais barato.
“Com este cenário, o que deveria acontecer, para o Brasil, é um trabalho ativo para se vender como um país que tem mão de obra disponível e matriz energética limpa, mais barata que na Alemanha, com todo o apelo da sustentabilidade. Seria um incentivo, por meio de uma forte campanha, para que empresas daquele país se instalassem no Brasil”, explica o conselheiro da AHK-PR.
Neste sentido, ele também ressaltou que o Brasil precisa oferecer uma desburocratização e melhora na logística, para escoamento da produção, no sentido de se tornar mais atrativo.
Emerson relembrou, ainda, as visitas de membros do primeiro escalão alemão ao Brasil em 2023. Em junho, os ministros alemães do Trabalho, Hubertus Heil, e do Exterior, Annalena Baerbock, visitaram Brasília em busca de mão de obra qualificada.
“O Brasil tem uma boa imagem na Alemanha e eles estão dispostos a dar abertura para o país. Em relação a esta última visita, para buscar mão de obra, é preciso termos um olhar cuidadoso. É muito caro formar pessoas, e mandar profissionais qualificados sem contrapartidas pode não ser um bom negócio. O ideal seria trazer investimento direto da Alemanha para o Brasil, e não exportar a mão de obra que temos”.
Reflexos podem chegar a plantas no Brasil
Em relação às empresas, Emerson afirma que a presença de multinacionais alemãs com unidades no Brasil pode gerar impacto nas unidades locais.
“Pode ser que essa situação da Alemanha gere uma maior cautela nos investimentos a serem feitos pela matriz nessas filiais. O que pode acontecer é que, indiretamente, elas segurem algum investimento e isso impacte no Brasil. Por exemplo, ao não fazer um investimento que estava previsto, produtos e soluções deixam de ser compradas e atingem fornecedores locais. Mas isso vai ser uma decisão estratégica de cada empresa”, ponderou.
No mês passado, o Bundesbank (banco central alemão) divulgou um relatório de expectativa da volta do crescimento da economia alemã nos próximos meses. “Acredito que pode ser, de fato, um trimestre melhor, mas o problema econômico é um pouco mais profundo”.
“Sabemos que a Alemanha é a locomotiva econômica da Europa. Por isso, a recessão do país é prejudicial para todo o continente. E a Europa, por sua vez, tem uma importância econômica para todo o mundo. É uma cadeia, e esses reflexos acabam sendo percebidos ao longo dela”, frisa.
Em relação ao Brasil, Emerson aponta que os resultados recentes de crescimento, deflação e nota de crédito elevada são resultados de uma política monetária acertada do Banco Central que começa a render frutos.
“Graças às ações tomadas, mesmo segurando juros altos, a consequência positiva vem agora. Isso é positivo. É importante que o governo atual faça investimentos na parte de infraestrutura para melhorar a competitividade do país e fazer um ciclo virtuoso”.