RIO – Depois de seis anos sem atividades de exploração de petróleo e gás natural, o Paraguai volta a receber investimentos numa campanha de perfuração. Rodeado por grandes produtores do continente, como Brasil, Argentina e Bolívia, o país vive a expectativa de sua primeira descoberta econômica.
A petroleira britânica Molecular Energies (ex-President Energy) iniciou, na semana passada, a perfuração de um poço na Bacia do Chaco. As atividades devem se estender por 45 dias.
O prospecto está localizado próximo à fronteira com a Argentina, a cerca de 40 km de um campo produtor no país vizinho. A empresa estima um potencial de mais de 260 milhões de barris de petróleo de recursos médios não arriscados no prospecto e adjacências.
Petróleo é questão de segurança energética para Paraguai
A retomada da exploração de óleo e gás no Paraguai foi comemorada pelo governo local. O país tem a esperança de assegurar a independência das importações – assunto que, em 2023, ganhou um novo contorno após a crise aberta com a Argentina sobre o tráfego na hidrovia Paraguai-Paraná.
Sem acesso ao mar, o Paraguai depende do transporte fluvial para importar petróleo e derivados. No ano passado, a Administração Geral de Portos da Argentina passou a cobrar pedágio dos navios que passam pelas águas do país para financiar a manutenção da rota fluvial no trecho argentino da hidrovia. A decisão, unilateral, gerou uma tensão diplomática no Mercosul.
Em setembro, a Argentina chegou a ordenar a paralisação da navegação de uma barcaça que transportava cerca de 30 milhões de litros de combustível da Shell ao Paraguai até o pagamento de uma taxa.
“A segurança energética é evitar a dependência de outros países, temos um consumo significativo de produtos petrolíferos em todo o setor de transportes, temos um consumo bastante significativo de gás liquefeito de petróleo [GLP] nas cozinhas. Portanto, essencialmente o que significaria [descobrir petróleo] é evitar a dependência de outros países, independentemente dos benefícios económicos que isso possa significar para o país e para a população, em particular”, afirmou o Vice-Ministro de Minas e Energia, Mauricio Bejarano em nota.
Paraguai é uma fronteira ainda pouco explorada
O Paraguai é considerado uma fronteira exploratória, com baixo nível de perfurações – pouco mais de 50 poços em toda sua história.
As grandes petroleiras estão fora da indústria paraguaia de óleo e gás. O país não realiza rodadas de licitações – os contratos são concedidos pelo Vice-Ministério de Minas e Energia, ligado ao Ministério de Obras Públicas e Comunicações, por meio de um sistema aberto de licenciamento.
Em 2014, a Molecular chegou a anunciar uma descoberta (poço Lapacho-1), mas embora tenha mapeado hidrocarbonetos móveis no poço, os testes não conseguiram demonstrar a capacidade de entrega comercial dos reservatórios de petróleo e gás encontrados.
EUA acreditam que país tem potencial para shale gas
Num estudo publicado em 2013 (ver na íntegra, em .pdf), a Administração de Informação de Energia (EIA) dos Estados Unidos estimou que o Paraguai possa ter recursos tecnicamente recuperáveis de gás de folhelho não comprovados da ordem de 75 trilhões de pés cúbicos (TCF).
O Paraguai foi tema de estudos também da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), por ser uma extensão da porção gaúcha da Bacia do Paraná, no Brasil.
A Bacia do Paraná e a Bacia do Chaco, conhecidas como Bacia do Chaco-Paraná, abrangem 95% do território paraguaio
De acordo com a EPE, de 2021 (veja a nota técnica na íntegra, em .pdf), trata-se de uma pré-bacia intracratônica similar à Bacia de Neuquén, onde se encontra a formação de Vaca Muerta, na Argentina.
A Bacia do Chaco está localizada na região Ocidental, ocupa 60% do território nacional e se estende até a Bolívia e a Argentina.
Já a Bacia do Paraná ocupa a Região Oriental paraguaia e alcança os territórios argentino, brasileiro e uruguaio.
Por André Ramalho/EPBR