“Liderança no ambiente corporativo é um momento de solidão para nós, mulheres. Mas, buscar grupos de apoio é fundamental nesse processo.” Assim, a Co-fundadora do W-CFO Brazil, Sara Velloso, deu início ao Comitê Aberto de Mulheres, promovido pela Câmara Americana de Comércio de Minas Gerais (Amcham MG) na manhã deste 8 de março, em celebração ao Dia Internacional das Mulheres. Mais de 100 participantes estiveram presentes na atividade, em Belo Horizonte.
O Comitê da Amcham MG realizou a “Roda de Conversa: Carreira, Liderança e Protagonismo Feminino no Mundo Corporativo” e contou com um painel diverso de executivas, que compartilharam os obstáculos e oportunidades de suas trajetórias profissionais. Participaram como palestrantes Tassya de Paula – Gerente Global de Cultura da Nubank, Luciana Zanini – Diretora Financeira do Instituto Inhotim, e Cristiane Barreto – Presidente da Zetra.
Sarah Velloso, responsável pela mediação do debate, é executiva C-level há mais de 30 anos, com ampla atuação em novos negócios, multinacionais e grupos familiares. Ela destacou a importância de redes como a Women Finance Leaders Group (W-CFO Brazil) para a construção da igualdade de gênero nas empresas. “A associação de executivas financeiras visa criar conexões, networking e mentorar mulheres para serem futuras CFO’s no mercado. Essas redes garantem apoio e coletividade para não nos sentirmos mais sozinhas.”
Para a Diretora Financeira do Instituto Inhotim,Luciana Zanini, um ponto essencial nessa jornada de liderança é a atenção ao bem-estar. “Liderar abarca três pilares, que são disciplina para fazer as coisas bem feitas, humildade para aprender e coragem que, para nós, é um ponto ainda mais importante. Mas, na trajetória é preciso entender que o sucesso e bem-estar caminham juntos. Por isso, é necessário ter atenção aos sinais que o corpo nos diz, porque não precisamos ficar doentes para fazer mudanças.”
Na perspectiva dos desafios de ser uma liderança executiva, Cristiane Barreto ressalta o autoconhecimento. “É preciso ser diferente e forte o suficiente para entender o que melhorar e em quais áreas você é boa. Para isso, o autoconhecimento é o ponto de partida e para alcançá-lo não podemos ter vergonha de pedir ajuda. Percebendo que a empresa é viva, conseguimos fazer leitura dos processos e das oportunidades”, explica a presidente da Zetra.
Interseccionalidade
Segundo dados da pesquisa global realizada em 2023 pela Grant Thorton International, as mulheres ocupam 33,5% dos cargos de liderança sênior em empresas de médio porte. Entretanto, quando a análise é feita em relação ao ano anterior, o avanço foi de apenas 1,1%, o que significa que, nesse ritmo, a equidade entre mulheres e homens nos cargos em liderança sênior não será alcançada antes de 2053.
Quando o recorte interseccional é feito, a situação é ainda mais desigual. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que menos de 3% de mulheres negras alcançam cargos de diretoria ou gerência no Brasil. “Nossa jornada não será linear e reconhecer isso é muito importante. Mas, é necessário nos perguntar por que ainda precisamos falar disso? Os questionamentos precisam ser mais profundos e com o foco no coletivo”, destaca Tassya de Paula, Gerente Global de Cultura da Nubank.
Segundo ela, para mudar a situação no ambiente corporativo é urgente mais diversidade. “Como Gerente de Pessoas e Cultura busco construir equipes diversas e com visões diferentes. Espaços onde há conflitos há inovação.”
Tassya também é co-fundadora da Uuka, associação que luta contra a dissonância social e racismo estrutural no Brasil, por meio de mentoria para profissionais negros e negras. Mais de 150 pessoas foram beneficiadas com o desenvolvimento de habilidades técnicas e emocionais para cargos de liderança. “Pavimentar caminhos é parte integral desse processo de mudança”, finaliza.