O endividamento é uma realidade que afeta milhares de empresas de todos os portes, desde os microempreendedores individuais (MEI) até as grandes sociedades empresariais. Para ressaltar a importância de uma gestão financeira eficiente e das políticas de renegociação de débitos, o programa Desenrola Pequenos Negócios, lançado esse mês recentemente pelo governo federal, tem como foco as dívidas bancárias não pagas até 23 de janeiro de 2024.
Um recente levantamento interno da Recovery, empresa do Grupo Itaú e plataforma especialista em recuperação de crédito no Brasil, a partir de sua base de dados de mais de 1.8 milhão de CNPJs com inadimplências, mostra que empresas “falidas” somam dívidas de R$ 102 bilhões atualmente. Este número considera o valor das dívidas atualizado e são empresas que foram encerradas e não estão mais em atividade, negócios que deixaram de apresentar demonstrativos e declarações obrigatórias por dois anos consecutivos ou ainda CNPJs com algum problema, como o não cumprimento das obrigações legais, inconsistência nos dados, domicílio no exterior ou fraude.
Já as empresas ativas, por sua vez, devem R$ 19 bilhões. Aqui são as empresas que estão com situação regular e não há nenhuma pendência, ou seja, apesar da dívida, o CNPJ ainda está ativo para operar. As dívidas das empresas ativas representam 23% daquelas que já fecharam as portas.
Uma análise do perfil das empresas endividadas revela que a maioria são micro e pequenas empresas (PME) e microempreendedores individuais (MEI). Dos CNPJs analisados, 52,5% pertencem a Empresários Individuais e Microempreendedores Individuais, responsáveis por cerca de 44% das dívidas desse segmento. Por outro lado, as Sociedades Empresárias representam 38% dos CNPJs e detêm 46% das dívidas.
A maior parte dessas empresas se concentra na região Sudeste: São Paulo reúne 31% delas, Rio de Janeiro 10% e Minas Gerais aparece com 9%. Em São Paulo, o montante da dívida está em R$ 55,7 bilhões. O Rio de Janeiro, em segundo lugar, contabiliza R$ 14 bilhões. Em Minas Gerais, o valor está em R$ 11 bilhões de dívidas. Um outro indicador de mercado relacionado a este cenário é da Serasa Experian, que aponta que cerca de 6,3 milhões de micro e pequenas empresas estavam inadimplentes em janeiro de 2024.
Essa disparidade no endividamento reflete a vulnerabilidade dos pequenos negócios frente a oscilações econômicas e desafios financeiros, segundo Bruno Russo Franco, Diretor na Recovery. “Enquanto grandes empresas possuem maior capacidade de absorção de impactos financeiros e até conseguem negociar sua carteira de dívidas, os micros e pequenos empreendedores sofrem mais, muitas vezes levando ao fechamento precoce de suas atividades”, pontua Franco.
Os dados da Recovery mostram um aumento constante no número de CNPJs endividados e no valor total das dívidas ativas ao longo dos últimos cinco anos. Em maio de 2024, houve um acréscimo de 3% no número de CNPJs endividados em comparação a maio de 2023, passando de 1,752 milhão para 1,800 milhão de cadastros de pessoas jurídicas. O crescimento foi ainda mais significativo quando comparado ao mesmo período de 2020, com um aumento de 127% no número de CNPJs endividados, que passou de 793 mil para 1,800 milhão.
Em relação à evolução dessas dívidas, os dados mostram R$ 3 bilhões em 2020, seguidos por aumentos expressivos durante dois anos consecutivos até atingir o patamar de R$ 5,76 bilhões. No entanto, em 2023, houve uma redução, com as dívidas na faixa de R$ 4,70 bilhões, tendência que se reverteu em 2024, com um crescimento tanto no número de empresas endividadas quanto no valor das dívidas, que alcançaram R$ 5 bilhões.
A Recovery reportou ainda um aumento notável na aquisição de novas dívidas de pessoas jurídicas nos anos de 2021 e 2022, com um crescimento de 12% em 2021, em relação a 2020, e um aumento adicional de 16% em 2022, em comparação a 2021. No entanto, a partir de 2023, a empresa percebeu uma queda no número de novas dívidas empresariais neste ano.