O Brasil vive uma escalada de golpes financeiros e crimes digitais. Só em 2024, as fraudes geraram prejuízos de mais de R$ 10 bilhões aos bancos, segundo informações divulgadas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Isso representa um aumento de 17% em relação ao ano anterior, quando as perdas somaram R$ 8,6 bilhões. A maior parte desse prejuízo está relacionada a fraudes com cartão de crédito, mas os golpes via Pix também apresentaram um crescimento significativo. Somente no Distrito Federal, foram mais de 44 mil registros de estelionato, uma média de 134 ocorrências por dia. Esses dados alarmantes mostram que ninguém está imune, mas também indicam caminhos para proteção e prevenção.
Os criminosos estão cada vez mais sofisticados, utilizando técnicas de engenharia social para enganar as vítimas e obter informações sigilosas. Alguns dos golpes mais comuns incluem:
1) Falsa central: os golpistas se passam por atendentes de banco e solicitam dados pessoais e bancários das vítimas;
2) Phishing (pescaria digital): os criminosos enviam links ou mensagens falsas que direcionam a sites fraudulentos, onde as vítimas fornecem seus dados;
3) Falso boleto: boletos adulterados são enviados para as vítimas, que acabam pagando para os golpistas;
4) Troca de cartão: os golpistas trocam o cartão da vítima no momento do pagamento ou utilizam outros meios para obter os dados do cartão;
5) Deepfakes: os usos de inteligência artificial para criar vídeos e áudios falsos, com o objetivo de enganar e extorquir as vítimas.
Quando o assunto é golpe digital, a responsabilidade costuma ser compartilhada. Os bancos são responsáveis por manter seus sistemas seguros e invioláveis — e, de fato, a maioria dos ataques não compromete os aplicativos bancários diretamente. Os criminosos utilizam táticas de engenharia social — induzem as vítimas a fornecerem informações sigilosas usando informações públicas ou obtidas ilegalmente para dar aparência de uma abordagem corriqueira — para enganar as vítimas e obter dados sensíveis e, por isso, os golpes ocorrem principalmente por falha humana.
Os clientes devem tomar precauções ao lidar com suas informações. Se o golpe ocorreu por descuido da pessoa (como clicar em links suspeitos, compartilhar senhas ou acessar redes inseguras), fica difícil responsabilizar a instituição financeira.
A prevenção é a melhor forma de evitar cair em golpes financeiros e crimes digitais, por isso:
1) Desconfie de ofertas muito vantajosas ou ligações de números desconhecidos, que insistem em realizar rapidamente as operações: a pressa é um forte indicativo de golpe;
2) Não compartilhe seus dados pessoais e bancários com terceiros, e não realize transferências ou pagamentos para desconhecidos ou em sites com nomes curtos, estranhos ou que não começam por “https://”;
3) Verifique a procedência de links e mensagens antes de clicar, e evite clicar em links recebidos por SMS, e-mail ou WhatsApp, especialmente se envolvem supostas promoções, ofertas ou cobranças;
4) Em caso de contato de supostos atendentes de banco, desligue e entre em contato com os canais oficiais da instituição. E nunca compartilhe senhas ou códigos de autenticação;
5) Mantenha seus dispositivos eletrônicos seguros e atualizados, use antivírus e senhas fortes;
6) Em caso de empréstimos a amigos ou familiares, prefira realizar a transação presencialmente.
E caso note alguma operação suspeita ou fraude:
1) Registre um boletim de ocorrência imediatamente;
2) Comunique o banco e solicite o bloqueio de contas ou cartões afetados;
3) Consulte um advogado especializado para avaliar possíveis medidas judiciais;
4) Busque apoio psicológico, se necessário. A angústia causada por esses crimes pode ter efeitos devastadores na saúde mental.
Quando a responsabilidade é do banco
Se houver falha no sistema de segurança do banco, a responsabilidade recai sobre a instituição. Por isso, o setor bancário tem investido cada vez mais em tecnologia para combater fraudes e crimes digitais. A inteligência artificial (IA) é uma ferramenta poderosa nesse sentido, com soluções que detectam deepfakes e preveem comportamentos suspeitos em tempo real. Essas tecnologias permitem bloquear ou investigar rapidamente operações fraudulentas, impedindo que o dinheiro seja desviado. A IA é usada para identificar padrões suspeitos, prever comportamentos fraudulentos e bloquear transações em tempo real.
Este cenário desafiador tem apresentado avanços importantes. O uso da inteligência artificial (IA) tem sido um trunfo tanto para criminosos quanto para os sistemas de defesa. Golpes com deepfakes — vídeos ou áudios falsos, mas realistas — cresceram 1.500% no universo gamer e 900% nos marketplaces em 2024. Logo, algumas empresas estão lançando soluções baseadas em IA capazes de detectar conteúdos falsificados em tempo real, analisando os menores detalhes em vídeos e imagens, como distorções e imperfeições que escapam ao olho humano, alertando os usuários e ajudando a evitar fraudes. Ou seja, diante do crescimento dos crimes digitais, estão sendo mobilizados diversos recursos para enfrentá-los. Mas a conscientização da população e o uso estratégico e cuidadoso da tecnologia são fundamentais para virar esse jogo. Com informação, cuidado e apoio, é possível se proteger — e proteger também quem está à sua volta.
*Luis Gonzaga de Paulo é Mestre em Computação Aplicada, especialista em Segurança da Informação, coordenador e professor