Apesar dos avanços nas discussões sobre letramento financeiro, a educação financeira ainda não é uma realidade consolidada nas escolas brasileiras. De acordo com reportagem da Rádio Senado, o tema é considerado pouco familiar por especialistas do próprio Ministério da Educação (MEC), que reconhecem a urgência em integrar conteúdos como orçamento familiar, crédito e consumo consciente desde o ensino fundamental. O projeto de lei que propõe a obrigatoriedade da educação financeira nas escolas segue em tramitação no Congresso Nacional.
Para o trader e empreendedor financeiro Alan Barizoni, é justamente na infância que se formam os hábitos que definem a relação de um indivíduo com o dinheiro. “A escola tem um papel crucial na formação de valores como disciplina, responsabilidade e planejamento. Se incluirmos a educação financeira desde cedo, teremos adultos mais preparados para tomar decisões e menos vulneráveis a armadilhas do consumo”, afirma.
A educação financeira na infância deve ir além das fórmulas de juros ou conceitos técnicos. Ela precisa estar integrada ao cotidiano das crianças, com exemplos práticos que envolvam o uso do dinheiro, o entendimento de valor e o consumo consciente. Alan defende que esse tipo de abordagem desenvolve não só a inteligência financeira, mas também competências emocionais importantes para a vida em sociedade. “Quem aprende a poupar, a esperar, a fazer escolhas com consciência desde criança, tende a crescer com mais autonomia e equilíbrio. Isso impacta diretamente na forma como essa pessoa lida com dinheiro, trabalho e relacionamentos”, pontua.
Apesar de a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prever a inclusão do tema de forma transversal, a aplicação ainda é limitada. Na prática, muitas escolas não possuem estrutura, material ou capacitação docente para tratar da educação financeira com profundidade. Para Alan, é necessário um esforço conjunto entre iniciativa pública e privada, além do engajamento das famílias, para que esse conhecimento se torne efetivo. “Não se trata de transformar a criança em uma investidora mirim, mas de fazer com que ela entenda que o dinheiro tem um papel social, que envolve escolhas, limites e planejamento”, explica.
Outro ponto destacado por especialistas é o impacto coletivo dessa mudança. Um país com mais cidadãos conscientes financeiramente tende a ter menos inadimplência, menos dependência do crédito e maior estabilidade econômica. Crianças que aprendem a lidar com o dinheiro hoje serão adultos mais preparados amanhã, tanto para organizar a própria vida quanto para contribuir com uma sociedade mais equilibrada financeiramente.
Alan também ressalta que a educação financeira pode ser uma ferramenta de redução da desigualdade. “Quando você ensina uma criança de baixa renda a entender como funciona o dinheiro, você oferece a ela uma ferramenta de transformação. Educação financeira é um ato de justiça social, e quanto mais cedo começar, mais forte será o impacto.”
Diante desse cenário, é urgente que o Brasil amplie o debate e transforme essa pauta em ação prática. Incluir a educação financeira no currículo de forma estruturada, com apoio institucional e formação de professores, não é apenas uma inovação pedagógica, é uma estratégia para mudar a realidade econômica de uma geração inteira.