Depois que o grupo espanhol de supermercados Dia anunciou, na semana passada, o fechamento de 343 lojas e 3 centros de distribuição no Brasil, permanecendo apenas em São Paulo, credores e trabalhadores estão preocupados com a decisão dos gestores espanhóis de entrar com pedido de Recuperação Judicial na última quinta – 21 de março.
Segundo a companhia, a recuperação judicial tem como finalidade a continuidade da operação na empresa. O pedido se limita exclusivamente ao Dia Brasil, ou seja, não há impacto para a situação financeira na Espanha e na Argentina.
O especialista em recuperação judicial, Luiz Deoclécio Fiore de Oliveira, explica que os valores são expressivos: mais de 2 mil trabalhadores impactados, com valores que somam cerca de R$ 46 milhões e endividamento financeiro com bancos de aproximadamente R$ 269 milhões.
“É muito crítico e sem precedentes no segmento de varejo uma rede ter uma dívida deste tamanho porque, à medida em que está devendo a todos os fornecedores e o crédito acaba ficando restrito, haverá uma grande dificuldade de reposição dos produtos na loja”, afirma.
Oliveira chama a atenção para a provável dificuldade da rede varejista Dia em honrar com os compromissos financeiros junto aos fornecedores.
“Provavelmente, muitos fornecedores foram pegos de surpresa com essa informação, lembrando que todas as dívidas sujeitas à recuperação judicial não podem ser pagas de forma isolada e têm que ser negociadas de maneira coletiva dentro do que for proposto no plano de recuperação judicial”.
O especialista também avalia a principal limitação dos supermercados Dia em pagar as dívidas, caso o pedido de RJ seja aceito pela justiça brasileira.
“Uma operação que possui mais de 400 lojas e fecha 343 terá limitação na geração de caixa, o que reduz a capacidade pagamento, principalmente se o plano de RJ tem uma proposta muito ‘sacrificante’ para os credores, com carências e prazos longos e um grande deságio na dívida. É muito provável que essa operação não tenha condições de continuar as atividades”, conclui.