O endividamento é uma realidade para diversas famílias brasileiras. De acordo com o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa, mais de 71 milhões de brasileiros fecharam o mês de novembro com pendências financeiras e são muitas as situações que levam as pessoas a esse cenário de endividamento.
A especialista em educação financeira, Marcela Gaiato Martins, Diretora da Recovery, empresa líder na compra e gestão de créditos inadimplentes no Brasil, listou alguns dos motivos mais comuns de endividamento da população brasileira e dá algumas dicas de como evitá-los.
Falta de conhecimento sobre organização financeira
Hoje, muito se fala em educação financeira, que nada mais é do que aprender a lidar com o dinheiro de maneira equilibrada, pensando nos compromissos que temos e nas coisas que queremos construir ao longo da vida. A educação financeira envolve o conhecimento sobre como gerir o dinheiro de forma eficaz e como tomar decisões financeiras alinhadas aos nossos objetivos no dia a dia. Esse é o caminho para quitar dívidas, planejar conquistas, formar uma reserva financeira que nos proteja de imprevistos e, aos poucos, ir criando um patrimônio.
Pedidos de empréstimo
Além do cartão de crédito, os empréstimos bancários também são um dos grandes motivos do endividamento da população. Por ter taxas elevadas e juros altos, o valor a ser pago no final é bem maior do que o valor que foi emprestado pela instituição financeira. Por isso, ao fazer um empréstimo é preciso ter planejamento e entender como o pagamento será feito de maneira que não gere inadimplência. Ao contratar um empréstimo analise o CET, ou seja, o Custo Efetivo Total que calcula junto com o dinheiro emprestado todas as taxas, impostos e tarifas e resulta no valor total a ser pago. Outra alternativa é tentar uma renegociação para quitar a quantia.
Ausência de controle dos gastos e das entradas de dinheiro
Um dos principais motivos do endividamento é a desorganização financeira, em especial, a falta de controle dos gastos e do dinheiro que entra. Fazer isso é importante para qualquer pessoa, especialmente para aquelas que trabalham por conta e recebem pela venda de produtos e serviços ao longo do mês. Esse dinheiro picado deve ser anotado diariamente. Muitas pessoas gostam de fazer as contas de cabeça, mas isso nem sempre funciona. Se você costuma fazer compras parceladas no cartão e não coloca o valor na sua lista, possivelmente, vai levar um susto na hora de receber a fatura. Além disso, anotar todas as despesas ajuda a enxergar melhor para onde nosso dinheiro está indo e fica mais fácil ver se tem algum corte que pode ser feito para equilibrar as contas ou fazer sobrar dinheiro. Por exemplo: o gasto com comida pelo aplicativo pesou no final do mês? Que tal segurar a onda por um tempo, preparando refeições em casa?
Uso não planejado de crédito
O crédito é um aliado do consumidor, mas seu uso deve ser consciente e planejado. A facilidade para contratação, muitas vezes, leva ao desequilíbrio financeiro e às dívidas. Ao parcelar a fatura do cartão de crédito ou usar o limite de conta (cheque especial), por exemplo, você está emprestando dinheiro do banco ou financeira. O dinheiro está lá, disponível para uso, mas não é seu e você paga caro toda vez que usar. O rotativo do cartão e o cheque especial são as linhas de crédito mais caras do mercado.
A taxa de juros do rotativo, atualmente, pode ultrapassar a casa dos 1.000% ao ano, como você pode conferir no site do Banco Central. No cheque especial, os juros podem chegar a quase 173% ao ano. Por isso, essas linhas de crédito devem ser usadas com cautela e por muito pouco tempo. Entrou no cheque especial? Corra para quitar o quanto antes e o mesmo vale para o cartão.
Para os demais empréstimos, antes de contratar, informe-se sobre o CET (Custo Efetivo Total). Faça as contas e veja se a parcela irá caber no seu bolso. Caso contrário, busque alternativas, como fazer renda extra ou tentar uma renegociação para quitar a quantia.
Doenças na família
Enfermidade é uma causa de endividamento. As situações chegam de maneira inesperada, levando as famílias a fazerem gastos extras com tratamentos. Além disso, doenças na família podem significar, muitas vezes, perda de renda, em função do afastamento do trabalho. Com os preços de medicamentos cada vez mais elevados e o alto preço dos planos de saúde, é possível recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS), o maior sistema de saúde universal e gratuito do mundo. O SUS disponibiliza médicos, medicamentos e exames sem custo algum. Esse direito de todo cidadão pode ser um alívio, mas nem sempre as questões são resolvidas sem gastos adicionais.
Para evitar entrar em dívidas por essa razão, a dica é manter uma reserva de emergência, ou seja, um dinheiro guardado que será utilizado apenas em situações extraordinárias. Comece guardando o que puder e, aos poucos, vá aumentando a sua reserva até ter alguns meses de gastos cobertos pelo valor.
Desemprego
O desemprego foi impulsionado pela pandemia, fato que gerou uma retração ainda maior nas oportunidades de vagas. Nesse contexto, muitas pessoas perderam seus trabalhos, terminando sem renda e com poucas oportunidades disponíveis no mercado. Esses fatores impulsionaram a inadimplência e, nesse contexto, o orçamento fica mais apertado. Assim, é preciso economizar em vários setores para conseguir se manter. Como alternativa, muitas famílias começaram a buscar uma renda extra, pois nesse cenário é preciso se organizar e se planejar com as novas condições.
Emprestar o nome
Muitas pessoas costumam emprestar o nome fazendo compras no cartão de crédito ou cedendo documentos para que um amigo ou familiar faça um financiamento usando seu CPF. Essa é uma das principais causas do endividamento da população brasileira, atrás apenas do desemprego. O empréstimo do nome ocorre, geralmente, quando alguém está inadimplente, por isso, não consegue tomar empréstimos usando a sua própria identidade. A questão é que se a pessoa não pagar o empréstimo, quem irá arcar com a conta é o titular do CPF. Além disso, a situação pode levar a conflitos no relacionamento. Ajudar alguém de quem gostamos é uma boa ideia, mas veja se há outras maneiras de apoiar seu amigo ou familiar endividado. Caso aceite emprestar o nome, faça combinados sobre o pagamento – se a pessoa tem algum bem, como uma moto, por exemplo, combinem que esse bem será vendido para pagar a dívida.
Compras por impulso
Comprar por impulso pode levar ao endividamento ou afetar o equilíbrio financeiro. Por isso, precisamos ficar atentos aos gatilhos de consumo, ou seja, às situações que nos estimulam a comprar sem planejamento. Entre elas, estão as promoções, liquidações e facilidades para fazer compras online. Para evitar que este comportamento se transforme em um hábito, o recomendado é sempre se questionar se você realmente quer, precisa e pode comprar. Pensar um pouco nessas perguntinhas antes de fazer uma compra por impulso pode fazer toda a diferença.