A prática de greenwashing entre bancos e empresas de serviços financeiros aumentou globalmente em 70% nos últimos 12 meses, em comparação com período anterior, e os combustíveis fósseis estão por trás de mais de 50% dos casos, mostra relatório da empresa de ciência de dados RepRisk publicado nesta terça (3/10).
- O greenwashing ou “banho verde” é um termo usado para indicar alegações falsas de virtudes ambientais por parte de organizações, como estratégia de marketing e relações públicas.
A RepRisk registrou 148 casos do setor bancário e de serviços financeiros em todo o mundo nos 12 meses até o final de setembro de 2023, contra 86 durante os 12 meses anteriores. Desse total, 106 foram de instituições financeiras europeias.
Além disso, mais de 50% dos incidentes mencionaram combustíveis fósseis ou vincularam uma instituição financeira a uma empresa de petróleo e gás.
“Esses incidentes não estão acontecendo isoladamente e os reguladores estão cada vez mais conscientes da escala do problema”, diz o RepRisk.
Em junho de 2023, a Autoridade Bancária Europeia utilizou dados da RepRisk sobre greenwashing para categorizar a comunicação enganosa no setor bancário e medir a escalada da prática na União Europeia.
Outro problema é o social washing.
A pesquisa revela ainda que quase uma em cada três empresas públicas ligadas ao greenwashing também está associada à lavagem social.
“A expectativa de vantagem competitiva derivada de uma imagem de sustentabilidade abriu as portas para uma lavagem verde e social. A falta de responsabilização em torno de um cenário de sustentabilidade empresarial em rápida evolução ajudou a manter esta porta aberta durante muito tempo”, avalia Philipp Aeby, CEO e cofundador da RepRisk.
A lavagem social ocorre quando as empresas fazem afirmações enganosas sobre a sua responsabilidade social, enquanto escondem questões como abusos de direitos humanos e más condições de trabalho.
Esse é o problema mais comum, por exemplo no Reino Unido e nos EUA, onde os abusos dos direitos humanos e a cumplicidade empresarial são responsáveis por 26% e 25% dos incidentes, respectivamente.
A diversidade também é uma questão marcante: nos EUA, 18% dos incidentes estão ligados à discriminação social ou à discriminação no emprego – em comparação com 11% no Reino Unido.
O lado B dos planos net zero
Entre as multinacionais, as alegações ambientais também carecem de transparência.
No início do ano, uma análise do Carbon Market Watch identificou que nenhum dos planos climáticos das 24 maiores corporações signatárias da campanha Race to Zero da ONU tinha alta integridade.
Enquanto se afirmam defensoras da ação climática, duas dúzias das mais ricas corporações do mundo estão “escondendo sua inação climática por trás da folha de figueira de planos ‘líquidos zero’ que soam verdes”, alertou o CMW em fevereiro.
São grupos de diversos segmentos de negócios — automóveis, varejo de moda, supermercados, alimentos e agricultura, tecnologia e eletrônica, naval e aeronáutica, além de aço e cimento — com uma receita combinada de mais de 3 trilhões de euros e responsáveis por cerca de 4% das emissões globais.
Reforma financeira
No próximo final desta semana, delegados de todo o mundo se reúnem no Marrocos para as Reuniões Anuais do Banco Mundial e do FMI – e o debate sobre o papel dessas instituições no financiamento climático volta aos holofotes.
O último ano foi marcado por incêndios e inundações de prejuízos bilionários, eventos extremos associados às alterações climáticas provocadas pela humanidade.
E enquanto esse tipo de catástrofe vai ficando mais frequente, o mundo ainda tenta desvendar a equação financeira para destravar os trilhões de dólares necessários para reequilibrar o clima global.
Para os analistas da E3G, o sistema financeiro precisa de uma grande revisão na sua arquitetura, para permitir uma redução crítica de emissões de gases de efeito estufa e garantir que os países vulneráveis ao clima tenham resiliência para lidar com todos os tipos de choques.
“As recentes catástrofes climáticas apontam para o valor de uma inovação: cláusulas de dívida resilientes às alterações climáticas, para que os países possam respirar tranquilos e concentrar-se na reconstrução após momentos tão terríveis”, explica o think tank.
Na segunda (2/10), o FMI publicou seu Relatório de Estabilidade Financeira Global recomendando a precificação de carbono como um dos mecanismos de financiamento da transição ecológica em países de renda média-baixa e baixa.
Outras indicações políticas para aumentar os investimentos – que deverão vir majoritariamente do setor privado – incluem avaliações de risco de crédito que considerem a intensidade de carbono da economia, e taxonomia sustentável.
Por Nayara Machado/epbr