A Bombril, marca icônica do setor de limpeza no Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial, buscando reestruturar dívidas que ultrapassam R$ 2,3 bilhões. O endividamento elevado tem como principal origem passivos tributários acumulados no final da década de 1990, quando a empresa esteve sob o comando do grupo italiano Cragnotti & Partners. Além disso, obrigações financeiras com vencimentos antecipados, que somam cerca de R$ 220 milhões, também contribuíram para a crise.
Diante dessa situação, especialistas avaliam que o crédito internacional poderia ter sido uma alternativa para evitar o colapso financeiro da companhia. Segundo Luciano Bravo, especialista em crédito internacional, o acesso a financiamentos no exterior é uma estratégia pouco explorada por empresas brasileiras, mas que pode oferecer condições mais vantajosas para manter a sustentabilidade financeira.
“O crédito internacional permite às empresas buscar capital com prazos mais longos, juros mais competitivos e estruturas financeiras que se adaptam melhor às suas necessidades. Se a Bombril tivesse buscado essa alternativa antes, poderia ter equilibrado sua estrutura de capital sem precisar recorrer à recuperação judicial”, explica Bravo.
Nos últimos anos, várias empresas brasileiras enfrentaram crises financeiras devido à restrição de crédito, levando à recuperação judicial ou falência. Americanas (2023): Enfrentou um rombo de R$ 40 bilhões e pediu recuperação judicial, Grupo Itapemirim (2022): Acumulou dívidas de R$ 2,4 bilhões e teve falência decretada Ricardo Eletro (2020-2022): Com dívidas de R$ 4 bilhões, fechou lojas físicas e opera apenas online. Saraiva (2018): Declarou recuperação judicial devido a uma crise no setor editorial, Grupo Petrópolis (2023): Afetado por problemas de liquidez, tenta reestruturar suas finanças. A dificuldade em acessar crédito foi um fator decisivo para a crise dessas empresas, evidenciando a importância de gestão eficiente e diversificação de financiamento.
O crédito internacional oferece vantagens como a diversificação das fontes de financiamento, redução da dependência do mercado doméstico e maior previsibilidade no fluxo de caixa. No entanto, muitas companhias enfrentam dificuldades para acessar essas linhas de crédito por falta de conhecimento ou planejamento estratégico adequado.
“O mercado internacional de crédito é amplo e oferece oportunidades para empresas de todos os portes. Mas é necessário planejamento, transparência e uma boa governança financeira para obter melhores condições”, ressalta Bravo. Ele acrescenta que um histórico de endividamento elevado e problemas fiscais podem dificultar a captação de recursos no exterior, tornando fundamental uma estratégia estruturada desde cedo.
A recuperação judicial da Bombril, que foi aceita pela Justiça, agora garante à empresa um período de 180 dias sem cobranças de credores, tempo que será crucial para a negociação de um novo plano financeiro. No entanto, a experiência da companhia serve de alerta para outras empresas brasileiras sobre a importância de antecipar soluções antes que a crise financeira se torne irreversível.
“Empresas que buscam inovação e alternativas para financiamento conseguem superar desafios econômicos com mais solidez. O crédito internacional deveria ser visto como uma ferramenta essencial para evitar colapsos financeiros como esse”, conclui Bravo.
Agora, o desafio da Bombril será demonstrar aos credores sua capacidade de recuperação e manter sua operação ativa, enquanto busca renegociar suas dívidas. Resta saber se a companhia conseguirá reverter sua situação e recuperar a confiança do mercado.