Certos sabores nos acompanham pela vida. Um cheiro, uma textura ou uma combinação simples pode ser o suficiente para nos transportar, instantaneamente, à infância. Mais do que alimentar, a comida servida em momentos especiais tem poder de marcar emocionalmente quem a experimenta. E poucas ocasiões são tão simbólicas para uma criança quanto as festas de aniversário.
Segundo estudo da Harvard Medical School, realizado em 2020, a ausência de experiências afetivas significativas na infância, como celebrações familiares e aniversários, pode gerar impactos emocionais duradouros. Essas vivências, ou a falta delas, influenciam diretamente na autoestima, na segurança emocional e na qualidade das conexões que desenvolvemos ao longo da vida. Comemorar, portanto, não é apenas simbólico, é essencial.
Nesse cenário, a comida atua como elo afetivo. Uma pesquisa da Université Bourgogne Franche-Comté, na França, demonstrou que alimentos consumidos em contextos emocionais positivos ativam no cérebro áreas relacionadas ao prazer, à segurança e ao senso de pertencimento. Esse fenômeno é chamado de memória gustativa afetiva, capaz de despertar lembranças profundas apenas com um sabor familiar.
No Buffet Villa Kids Galpão, em Santo André, na Grande São Paulo, essa experiência acontece diariamente. Tatiana Parise, fundadora do espaço e referência em festas infantis, relata episódios emocionantes que reforçam o papel da comida como ativadora de memórias.
“Tem adulto que experimenta um prato e se emociona. Diz que tem gosto de infância. Crianças, muitas vezes, provam algo e reagem com um olhar de surpresa, de aconchego. É como se o corpo entendesse que aquilo é um carinho. E é mesmo”, afirma Tatiana.
Para ela, o cardápio é uma ferramenta de afeto. Em um cenário onde o visual muitas vezes se sobrepõe à essência, ela observa uma tendência de retorno ao que realmente importa: o sabor que acolhe, que marca e que faz sentido.
Essa percepção também é validada por dados da American Psychological Association, que destaca a forte ligação entre alimentação, bem-estar emocional e vínculo social. Sabores associados a momentos felizes têm o potencial de aliviar o estresse, reforçar laços familiares e até fortalecer a identidade individual.
Se somos feitos das histórias que vivemos, talvez sejamos também feitos dos sabores que nos acompanham. E, nesse sentido, uma festa pode ser muito mais do que um evento. Pode ser um marco emocional onde a comida, longe de ser detalhe, assume o papel principal na construção de lembranças que aquecem o coração por toda a vida.
“Não falamos apenas de uma festa. Estamos falando de memória, de vínculos, de um repertório afetivo que a criança vai levar para a vida toda. A escolha do que se serve é mais importante do que parece, porque ela ultrapassa o momento. Ela permanece”, finaliza Tatiana.