Uma das maiores vozes da Música Brasileira se calou nesta quarta-feira (09). Morreu a baiana, Gal Costa, dona de uma voz singular, aos 77 anos.
A informação foi dada pela assessoria de imprensa da cantora, que não informou as causas da morte. O que se sabe é que a cantora estava escalada para fazer show, no último fim de semana, no Festival Primavera Sound, em São Paulo, e teve seu show foi cancelado de última hora. Para os organizadores do evento a assessoria informou que devido a cantora ter se submetido ao procedimento cirúrgico para retirada de um nódulo na fossa nasal direita, em setembro, por recomendações médicas ela não poderia subir aos palcos até o fim do mês de novembro.
A baiana Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro de 1945, em Salvador. Na década de 60 conheceu Caetano Veloso e logo em seguida, aqueles que juntamente com ela compunham no futuro a “doçura ou azedume” da música, o grupo “Doces Bárbaros”.
Em 1964 fez o espetáculo “Nós, por exemplo”, com Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia. No primeiro disco de Maria Bethânia fez uma participação especial ainda como Maria da Graça, mas ela detinha um apelido que ela não sabe quem o deu, portanto logo adotou para os palcos o Gal, uma forma “doce, carinhosa e forte”, como ela mesma declarava sobre.
Em 1968, com cabelos black power, figurino peculiar e gritos super afinados, no Festival Internacional da Canção, Gal Costa interpretou a canção “Divino Maravilhoso”, obra de Caetano Veloso. Fazendo do seu brado um basta a Ditadura Militar
Um batom vermelho, pernas de fora e a postura, um tanto que peculiar, com o violão nos anos 70 chamava a atenção para aquela única representante do Tropicalismo no Brasil, já que os demais músicos estavam sendo todos exilados. Com a responsabilidade de não deixar a música e o ideal do movimento que acreditava morrer, Gal persistiu com canções que eram a sua verdade.
Aliás, polêmicas não faltaram nos palcos esta baiana. A capa do disco Índia foi censurado, o mesmo só poderia ser vendido com um envelope preto ao redor, pois os seios da artista ficava em exposição. LP que tinha como carro chefe a música título de Cascatinha e Inhana e Desafinado de João Gilberto e Tom Jobim.
No icônico show, “Os olhos do gato de Alice”, que teve como diretor teatro Gerald Thomas, de 1994, Gal Costa surge cantando “Brasil” (Cazuza /George Israel), no Rio de Janeiro, com uma roupa que mais parecia um pijama, aberto. E ao cantar a música ela mostrava seus seios. Todos os jornais do Brasil estampavam em suas manchetes “
Em uma entrevista a artista falou “naquele momento que eu cantava, que eu abria a blusa e mostrava meus seios, simbolicamente significava que era uma guerreira numa atitude de coragem, com o peito aberto”, explicou.
Neste mesmo show o público na estreia chegou a vaiar Gal que surgia arrastando-se sobre um teto cenográfico como se fosse uma gata vagando pela cidade sob a lua.
Em seu repertório há muitos sucessos como: “Chuva de prata (Ed Wilson/Ronaldo Bastos), Pérolo Negra (Luiz Melodia), Baby (Caetano Veloso), Força Estranha (Caetano Veloso), Festa do Interior (Moraes Moreira/ Abel Silva), Açaí (Djavan), Sorte (Ronaldo Bastos, Celso Fonseca, Prêntice), Um dia de domingo (Tim Maia), Sonho Meu (Délcio Carvalho / Ivone Lara), Modinha para Gabriela (Dorival Caymmi). São tantas canções que não cabe enumerá-las, pois certamente esqueceremos alguma, porém a voz de Gal será inesquecível.
Com quase 60 anos de carreira, Gal se reinventou inúmeras vezes e ao cantar compositores atuais do cenário.
“A música tem que me tocar. Se ela é boa eu vou escolher para cantar”, dizia.
“O canto tem uma relação com Deus. É uma forma de você incorpora Deus, de você ser Deus e se comunicar com Ele”, disse em uma entrevista.