A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) apresentou em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (29/04), o resultado de uma investigação da 80ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Beruri (a 173 quilômetros de Manaus) que resultou na prisão de Elvys Marcos Pereira Gomes, 55, que se passou por perito judicial para coagir duas adolescentes, vítimas de estupro de vulnerável, a mudarem seus depoimentos contra os autores.
O mandado de prisão preventiva foi cumprido na segunda-feira (28/04), em Manaus, com apoio da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM) centro-sul.
O delegado Paulo Mavignier, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), disse que a prisão de Elvys é desdobramento de outra investigação da 80ª DIP, que culminou nas prisões de dois homens, de 43 e 79 anos, que abusaram sexualmente das vítimas. Eles são pai e avô delas, respectivamente.
“O Elvys se apresentou às adolescentes como perito judicial para coagi-las a mudar seus depoimentos neste caso. Por isso eu quero deixar um alerta à população de Beruri: quem tentar acobertar casos de abusos sexuais, principalmente os que acontecem em seio familiar, serão responsabilizados na forma da Lei”, enfatizou o delegado.
Caso
Conforme a delegada Rosane Ferreira, da 80ª DIP de Beruri, as investigações em torno do falso perito iniciaram em meados de outubro de 2024, após o pai e o avô das quatro adolescentes, de idades entre 13 e 15 anos, serem presos por estupro de vulnerável contra elas, em Beruri.
“Após as prisões, chegou ao conhecimento da 80ª DIP dois vídeos nos quais o falso perito questionava duas das adolescentes acerca da denúncia de abuso sexual contra o pai. Na ocasião, ele chega a dizer às vítimas que estava na residência delas com o conhecimento da Polícia Civil, o que não é verdade. Ao analisarmos os vídeos, ficou nítida a violência psicológica que ele pratica contra as vítimas, e é possível perceber que elas se mostram bastante abaladas e se sentem culpadas pelo pai estar preso”, contou a delegada.
Segundo a delegada, o homem foi contratado pela família das adolescentes para tentar inocentar os dois suspeitos, pois eles (os familiares) não acreditavam nos depoimentos das vítimas.
“Há a possibilidade de que ele tenha atuado em outros municípios do Amazonas. Por isso a gente pede à população, caso tenha conhecimento de que esse homem se apresentou como perito judicial em delegacias ou casas de vítimas de algum crime, que procure a delegacia mais próxima ou faça a denúncia”, ressaltou a delegada.
A delegada explicou que a Lei de Escuta Especializada prevê um procedimento específico para ouvir crianças e adolescentes e ele deve ser sempre acompanhado por uma autoridade policial ou judicial.
“Então ninguém está autorizado a se intitular perito para poder modificar o depoimento das vítimas, afetando ainda mais o psicológico delas”, falou a delegada.
Alerta
De acordo com a delegada, o caso do falso perito traz à tona uma coisa que vem acontecendo em relação aos crimes contra crianças e adolescentes, principalmente os que são praticados no âmbito familiar: pessoas que tentam descredibilizar e desfazer os depoimentos das vítimas contra os suspeitos.
“A Polícia Civil faz um alerta às famílias para que deem voz às crianças e adolescentes e as protejam quando elas denunciarem os agressores, uma vez que a não responsabilização dos autores pode aprofundar ainda mais o trauma das vítimas”, destacou a delegada.
Prisão
Segundo a delegada, na manhã de segunda-feira, o falso perito foi reconhecido por um policial civil da DECCM centro-sul, quando ele compareceu à delegacia alegando que teria ido até lá para acompanhar um caso.
“O policial civil tinha conhecimento da investigação da 80ª DIP e sabia que o homem tinha um mandado de prisão em aberto. Ao reconhecer o Elvys, de pronto ele nos comunicou e solicitamos o apoio para que ele cumprisse a ordem judicial”, explicou a delegada.
Procedimentos
Elvys Marcos Pereira Gomes responderá por coação no curso do processo envolvendo crime de estupro de vulnerável e está à disposição da Justiça.