Com a chegada do Dia dos Namorados, muitos departamentos de Recursos Humanos se deparam com uma questão delicada: como lidar com casais que se formam dentro da própria empresa? Embora os relacionamentos afetivos entre colegas de trabalho não sejam novidade, a forma como as organizações lidam com esse tema ainda é motivo de dúvidas e, em alguns casos, de conflitos silenciosos que comprometem o clima organizacional.
Para Alexandre Slivnik, especialista em excelência de serviços e vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), o ponto central da discussão não é proibir ou incentivar o namoro no trabalho, mas garantir que as relações não afetem a ética, a transparência e os resultados da equipe. “Relacionamentos entre colegas são naturais, especialmente em ambientes onde as pessoas compartilham metas, desafios e tempo. Mas é papel do RH e da liderança criar diretrizes claras para que isso não gere favorecimentos, conflitos de interesse ou desequilíbrios na dinâmica da equipe”, afirma.
Slivnik lembra que, de acordo com uma pesquisa da Society for Human Resource Management (SHRM), 27% dos profissionais americanos já se envolveram romanticamente com alguém do trabalho. No Brasil, os números são ainda maiores. Um estudo do InfoJobs revelou que 42% dos profissionais já tiveram ou têm um relacionamento com alguém do ambiente corporativo. O dado, segundo o especialista, mostra que é um tema que não pode ser ignorado. “Fingir que o assunto não existe é um erro. O ideal é tratar com naturalidade e respeito, mas com regras claras”, diz.
Segundo o especialista, empresas que mantêm uma cultura de confiança e comunicação aberta conseguem lidar com o tema com mais leveza e maturidade. O papel do RH, nesse cenário, é mediar o diálogo e garantir que a relação não interfira em avaliações de desempenho, promoções ou decisões estratégicas. “O problema não é o namoro, mas o que se faz com ele. O risco surge quando há desequilíbrio hierárquico, falta de transparência ou conflitos de interesses mal resolvidos”, alerta.
No Dia dos Namorados, é comum que empresas promovam ações simbólicas, como cafés da manhã temáticos ou troca de mensagens entre colaboradores. Para Slivnik, essas iniciativas são válidas, desde que respeitem a diversidade e não exponham quem prefere manter sua vida pessoal fora do ambiente profissional. “O papel da empresa não é promover o amor, mas permitir que ele exista sem interferir na produtividade e no bem-estar coletivo. Celebrar o dia com leveza e empatia é possível, mas o foco deve ser sempre o respeito.”
O especialista afirma ainda que um ambiente saudável é aquele que entende que os colaboradores não deixam sua vida pessoal na porta da empresa. “Quando as relações humanas são tratadas com respeito e maturidade, o engajamento aumenta. E isso vale para qualquer tipo de vínculo: amizade, admiração, parceria — e, sim, também para o afeto”, conclui.